segunda-feira, julho 25, 2005

S.A., 08.14

Desceu do comboio cinco anos atrasado. Reconhecemo-nos no que podíamos, rimo-nos dessa ideia, peguei-lhe na mochila para que percebesse que podia sentir-se chegado a casa. Olhei para ele e, no espelho retrovisor, estava cinco anos mais bonito. Porque ao pé dele pensei sempre em inglês, achei-o mais handsome que bonito. E, nisso, encontrei alguma graça. Levei-o a ver a cidade. Tirámos fotografias em que só aparece o nosso reencontro. Habituado à ordem de outros países, teve medo dos carros que se atravessaram sem medo nas estradas. Rimo-nos sempre que se assustou. Levei-o a ver o mar. Nas fotografias não se vê o instante em que me agarrou pela cintura e estremeci. À noite, mostrei-lhe as ruas mais pequenas. Já sabia, por essa altura, que iria querer falar-me de coisas maiores. Os copos ficaram vazios em cima da mesa, aproveitou o ruído para me dizer qualquer coisa sobre o meu cabelo. Cinco anos antes, numa rua de outro país cheia de carros rápidos, não se assustou e usou o meu nome para o mesmo efeito. Deu-me música, apesar do ruído. Voltei a achar-lhe graça. Nisso, pelo menos, foi pontual.

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