terça-feira, agosto 09, 2005

Ao vivo

Ela cantou, uma vez. Os dois sentados no chão, encostados à cama que havia no sótão de uma casa onde passavam as tardes escondidos. Ele tinha sido o primeiro a cantar, nas escadas da escola. Para inveja de todos à volta, ele cantava-lhe ao ouvido as suas músicas preferidas. Para espanto dela, ele sabia cantar. Parecia-se até, no timbre, com o vocalista que sentia em inglês. Naquele dia, ele insistiu. Dizia que aquela era a canção deles. Ela fingia não saber. Repetia que não. Mas tinha quinze anos e uma desculpa para desafinar. Pediu-lhe que aumentasse o volume da aparelhagem, puxou-o para que se sentasse na cama, e aproveitou o refrão. Sabia que, antes do último verso, potenciado pelo crescendo, surgiria o beijo dele. Quando a música acabou, deram um pelo outro. Ele viu que ela sorria. Ela viu que ele chorava.

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