sábado, agosto 06, 2005

Entre outras coisas, a solidão é o que fazemos das memórias

Há poesia sonora na solidão. A poesia sonora do silêncio. Dizem-me que há silêncios e silêncios. Consegues ouvi-lo? Um sopro audível, que como onda revolve as memórias sem a evocação do passado. Uma visão delirante dos sentidos que não acontece com realidade e não é aguda como a nostálgica tristeza, apesar de ser mais profunda e anestesiante. Uma lembrança não-evocada quando a pele sente e nós nos resumimos a uma camada fina que compacta o essencial. Acontecer-nos isso é uma aprendizagem: estremecimento de prazer. Um sopro permanente na sua curta duração, que a solidão é breve (mais do que breve não será solidão nem poesia), febril e contíguo aos pensamentos que concebemos: lua adolescente no céu que diligentemente nos guarda durante um percurso nocturno. Notas o compasso do silêncio? Ser capaz da ruína o silêncio quando o corpo implode, quando se cai gradualmente num buraco de tempo e os dias se configuram infinitamente maiores ou mais pequenos (nestes tempos esquecemos de como se vive o passado). O som vem de dentro como a voz imersa em água de piscina. A fonte de música exaure-se. Restam escombros e pó de silêncio. Volta a passar e a restabelecer-se o corpo. Por tudo isto não há hipótese de solidão desabrigada, por mais que se queira escapar do mundo dos ruídos. Há o silêncio a desfalecer, ardente, ruína ou há o sopro do silêncio, repousante. Lugares de poesia esses, sons da solidão.

1 comentário:

Conceição Paulino disse...

pq será k hoje a solidão, + o silêncio aparecem nos blogs k visito (insistentemente),Bjs e ;)