segunda-feira, agosto 08, 2005

Limites

Foi bonita a festa, pá. A baía de Setubal estava linda. Parecia tudo um cenário feito para me desafiar. O castelo lá ao fundo. O movimento dos ferrys. Lembro-me que a primeira e a última conversa se tocaram. Falou-se de limites. Os limites da extrema intimidade, os limites da máxima publicidade. Sem se saber que eram as primeiras ou as últimas palavras. A primeira foi quando o Cainha - não tenho assim tanta intimidade com o Carlos Martins, para mim o nosso maior saxofonista, mas o facto é que de há vinte anos nos vamos cruzamos e que tem sido esse o nome com que o guardo - me lembrou que a última vez que nos encontrámos foi num espectáculo da Mónica Calle, um espectáculo especialíssimo, na escuridão de um contentor, só nós três, uma cama, um texto segredado ao ouvido, à flor da pele, um acontecimento estranho, a Mónica é uma actriz de momentos únicos, a primeira vez que a vi actuar fazia a Virgem Louca de Rimbaud, em sessões contínuas, na Casa Conveniente, para uma plateia onde se juntavam prostitutas, entre outra fauna marítima de arribação que atracava na zona do Cais do Sodré. A última conversa da noite foi com o João Cardoso, a falar desse momento mágico que tinha vivido na noite anterior com as cinquenta mil pessoas do Sudoeste que assistiram ao último espectáculo dos Humanos. Uma hora e vinte de limites de tudo. De relação entre os músicos, com o público. A forma como sentiu esta triangulação entre os seus instrumentos, os companheiros em cima do palco, o público que não via, pressentia. Como é que é possivel ser tão intimo com cinquenta mil pessoas e tão público com duas?

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