sábado, março 15, 2014

POEMÁRIO FACEBOQUIANO | PRÓXIMA ESTAÇÃO


 

Não há correspondência com nenhuma estação.

Os passageiros devem desembarcar.
Caminhar pela penumbra do cais.
Avançar isolados.

Não há correspondência com nenhuma estação,
estado
ou situação.

É preciso viver de novo.

É preciso viver tudo de novo. O fascismo. A exploração. As lutas operárias.
O avanço napoleónico na estepe russa.
A miragem dos eslavos
à porta da cidade imperial.
A própria da cabeça guilhotinada.
O nosso sangue.

Não há correspondência com nenhuma estação. O próximo lugar
é o fim da linha,
o começo de uma viagem,
estação terminal.

Estação seminal.

Não há correspondência com nenhuma estação.

Os passageiros devem continuar calados.
Caminhar na euforia de um discurso
unificador.
Unificado pela alegria das palavras-chave.
Repitam comigo: crise, dívida pública, privatização,
empreendedorismo,
swapps, reestruturação, impostos,
taxas compensatórias,
constitucionalidade,
sacríficios.
 

Soletrem devagar. Sílaba a sílaba. O
sabor das palavras sobrevive muito tempo à sua passagem pelo palato.

Ainda somos travo do fascismo que nos habitou.

Os passageiros que caminham pelo cais devem permanecer
sozinhos. Há palavras-chave que virão ser atiradas
para guiar os corpos cansados
que voltam para casa.

Os corpos cansados voltam sempre para casa.
Todos os passageiros de todos os cais devem saber de cor
os enunciados das palavras chaves.

Há uma diferença entre despotismo e estupidez,
embora pareçam irmãos saídos da mesma mãe,
frutos lançado pela mesma árvore.

Saber distingui-lo é o essencial para andar no cais.
Para voltar para casa.


(publicado primeiro no facebook. reescrito)

1 comentário:

Anónimo disse...

tá muito bom JPN

Mónica