quinta-feira, julho 10, 2003
Mãe, esconde-me naquele poço....
Dezoito..., anos, é o nome da crónica de Pedro Strecht no Público de hoje.
confesso que não li o texto até ao fim. não porque o pedro strecht tenha cara de anjo e os anjos sempre me tenham assustado. ele é uma figura respeitável e ao abrigo da maledicência, vício que nem gosto de praticar com desmedida. não li porque não li, chega. Li o título, o lead e depois escorreguei para outras memórias, as minhas. Em Mafra. Quando a paisagem obrigatória era o Convento, onde, no seu lado direito se impunha o quartel e no lado frontal, um largo espaço onde os magalas faziam o seu juramento de bandeira, muitos deles antes de partirem para uma comissão de serviço em África.
Nessa altura o meu medo maior era fazer dezoito anos. E curiosamente esse medo de fazer dezoito anos manteve-se, depois da guerra ter terminado, da liberdade ter vindo por aí. Só perdi esse medo infantil no exacto dia em que celebrei o meu 18º Aniversário. Em Ilusão de 'África, texto cuja acção se desenvolve num bar de música africana, e numa certa contaminação autobiográfica ( que não gosto de revelar, mas os blogs servem para isso também, para escrevermos mais do que aquilo que gostaríamos de escrever) Antero também conheceu esse medo.
ILUSÃO D'ÁFRICA, 1997,
publicado em cenas de amor e guerra, Éfémero Edições, Aveiro, 1997
4ª Cena
( Antero avança para pista. Ouve-se uma morna. Antero dança e canta também. Começa a ficar comovido. Chora )
Antero
Um homem nunca chora! Hep! Sentido! (Desmancha) Eu vi-os partir caramba! Os sinos tocavam, havia lenços brancos e negros e aqueles sacanas não se mexiam! (Chora e bebe) Os gajos juravam bandeira ali, tesos que nem um carapau...( Vai buscar o copo. Cai. Enerva-se. Grita) Eu atirava-lhes com fisgadas de arames... Os tipos pareciam uns soldadinhos de chumbo...(Tropeça novamente. Fica sentado no chão) Iam e a única dor que levavam era umas fisgadas de clipes entre o tronco e as partes baixas! (Levanta-se. Deixa-se levar pela música. ) É por essas e por outras que se alguém falar mal do vinte e cinco de abril lhe enfio um pau pelo...Tinha medo de crescer ... (Grita) Eu vi-os partir! A única porra que os abanava eram uns arames atirados com pontaria de guerrilha (Chora enquanto soletra a letra acompanhando a canção cantada) Os gajos foram e voltaram e não perceberam nada de nada, caramba! (Chora) Era por causa deles que quando eu era puto ía pedir á minha mãe para não me deixar fazer dezoito anos! (Chora) “Mãezinha, esconde-me no poço que há lá atrás na horta e não digas a ninguém onde estou !” (Chora) É por essas e por outras que se alguém falar mal do vinte e cinco de abril lhe enfio um pau pelo...
(Ela entra. Senta-se na mesa. Bate palmas. Ele pára de dançar, faz uma reverência e caminha para a mesa )
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