sábado, julho 26, 2003
Ontem no FIAR...
em Palmela.
O outro lado da existência para além dos Blogs, o arranque do Festival Internacional de Artes de Rua...organização do Bando e da Câmara de Palmela. A primeira acção tem uma carga simbólica. Precorrer os vários espaços onde será apresentado o FIAR, sendo que em cada um deles o artista iria colocar um determinado material hasteado em forma de estandarte...pretexto excelente para ficarmos a conhecer os locais do Festival mas não só.
Também para que pudessemos averiguar dos lugares reais antes que sobre eles ecludam os diferentes gestos expressivos...para que, pudéssemos partilhar um movimento, a procissão, que está lá, na nossa memória mas que provavelmente, está, em tempo de reformulação do conceito de mobilidade, em extinção.
Também da cultura de um povo em cujas práticas é frequente este salto para o lado de lá das casas.
A procissão, que de repente, enquanto ideia, surge dinamizada por uma marca referencial onde coabita o gesto religioso, que tem muito de reiteração do calvário, e o gesto político, na sua dimensão mais inconformista, da revolta, da rebelião, da revolução, da emergência da rua enquanto lugar de poder.
[lembrei-me agora, não vem a propósito do texto, de um poema de Herberto Hélder que se me desata na língua e corre do palato aos caninos, saboroso. "Falemos de casas..." é assim que o poema começa a predizer...]
Não tenho a nostalgia dos lugares, senão daqueles que não vivi, ou vivendo, antes não tivesse vivido. Mas ao percorrer, com aquele magote de artistas e populares os lugares de revelação deste FIAR, senti a dor do mutante. Ainda não com chips no lugar dos olhos e do pensamento, mas a caminho. Como se o reconhecimento intelectual que fazia daquele movimento de um lado para o outro, fosse também, em mim, a denegação da emotividade da festa, do encontro, desta coisa muito telúrica de sermos uma nova realidade quando nos plasmamos no Outro.
[ morreu algo em mim que eu não matei. pelo menos no sentido escrupuloso, consciente, desse delito.]
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