sábado, agosto 09, 2003
Ética Blogueira (acto único)
[ leio, entre Homem a Dias e Reflexos de Azul Eléctrico, uma troca de posts, que para além das questões interacionais entre os dois blogues, que estão onde devem estar, em cada um deles, emerge a certa altura um conceito, o da "ética blogueira", que, adivinho, da forma intuitiva como organizo e edito este blogue, poderá também um dia vir a afectar este blogue. verifico aliás, que esta tentativa de criar uma ética blogueira já teve alguns episódios. relembro-me de um sobre o salvaguardar do material blogonauta (creio que levantada pelo Abrupto e pelo úuuuu...o vento lá fora) e, extra muros da blogosfera, a posição de Pedro Rolo Duarte sobre a necessidade de se vedar este espaço aos que têm um espaço de opinião nos média.
Não tenho sobre isto senão intuições muito empiricas, o tal achismo em que uma vez desancou edson atayde, mas parece-me que quando se começa a falar em ética os primeiros discursos trazem sempre o sabor daquele espirito português que luis stau monteiro caracterizou tão bem ao dizer que há em cada um de nós ( donde, não me excluo) "um polícia sinaleiro escondido".
ora, como, com este diálogo entre os dois blogues já se passou esta fase, e se chegou a um prudente " julgava que a espécie de ética dos blogues desaconselhava alterações ou remoções do que ficou escrito" (Homem a Dias), e a um responso de Reflexos de Azul Eléctrico, com " O Alberto Gonçalves do Homem a Dias chamou-me atenção para uma regra ética do blogar, a de que não se devem apagar posts já tornados públicos. Não me parece que seja uma regra a seguir estritamente, embora seja razoável. Por mim considero que há uma diversidade de posts, alguns mais emotivos, outros que se dirigem a alguém em especial, outros que exigem um certo trabalho continuado de escrita, outros de pura simpatia. Cada tipo constitui um caso e não me parece que se deva observar uma regra geral. Mas haverá outras opiniões".
[ responso cauteloso mas ainda assim delimitando de forma clara o campo de argumentação para o que se vier a seguir. também quero chamar respirar o mesmo ar à questão.
1. ( em geito de esclarecimento prévio:) no outro dia coloquei aqui um post que "linkava" um outro post do "Muro da Vergonha" em que eles abordavam a questão dos impostos de um nosso compadre blogonauta ( chamo-lhe assim porque a blogosfera não existe senão enquanto comunidade ( gerada por um dispositivo tecnológico que a impulsionou, suporta e alimenta)). coloquei o post eram 4h da manhã, na linha daqueles blognoautas que, como o Aviz, escrevem até que a noite doa. de manhã, mais lúcido, reli o meu post. o post do abrupto, o post do muro sem vergonha. não demorei muito tempo a perceber que tinha enfiado os pés pelas mãos. tinha lido muito precipitadamente o post do muro sem vergonha e o do absurdo. para além disso a referência "enojado", mesmo que como uma indicação do estado de mim enquanto receptor, era "ofensiva", "sopeira" e "abjecta" (sem ofensa para os assumidamente ofensivos, sopeiros e abjectos) porque não tem a ver com a forma como ambiciono qualificar a minha presença aqui. nem tem a ver com o "Abrupto". que continua a ter, como objecto de um ruído que extravaza a dimensão da "coisa em si", a minha solidariedade. que se detém aí, mas não é isso que importa. fui eu que, impulsivamente, me meti por caminhos nos quais não quero gastar nem solas, nem chão. quando perguntei às funcionalidades do meu blogger o que poderia ele fazer, das alternativas disponíveis "delete this post" era sem dúvida a mais sedutora. entre mim e o "muro sem vergonha" as coisas correram muito bem. encanta-me que as minhas primeiras amizades blogonautas [ como com o Socio[B]logue ] tenham nascido de diferendos. isto também diz muito sobre a ética. embora o diga de outro modo. sem decálogos. com aquela delicadeza de ser a que quase todos nós aspiramos e que, os mais afortunados de nós, realizam.
2. Na resposta que me mandou, o "Muro" colocou à minha consideração a possibilidade de retirar o seu post de resposta, já que eu tinha também retirado o meu. disse-lhe que não havia razão para isso, já que nos comentários eu tinha precavido os mais incautos de que em respirar o mesmo ar já nada se respirava sobre tal assunto. E aproveitei para lhe dizer algo que verifico, poderia ser um estatuto editorial mínimo deste blogue. que aqui deixo. para que os mais desprevenidos não pensem que aqui se respira um ar que afinal não se respira.
3. Quanto às éticas, não poderia concordar mais com o reflexos, cada um participa com um estatuto editorial próprio. cada tipo constitui um caso. e não será por aí que nos desentenderemos. aliás, a minha suspeição, aqui como lá fora, é que será por aí que nos conseguiremos verdadeirtamente entender.
4. Fica então aqui parte do email que enviei ao Muro, já que, como disse, pressinto aqui um esboço de um estatuto editorial deste blogue:
"sobre a ética blogueira, ela diz-me muito pouco enquanto mecanismo de controle e regulação, embora me diga tudo sobre a delicadeza que nos merece o mundo, os outros, nós mesmos. e mais uma vez gostei de a sentir como coisa recíproca, vivida, neste nosso diálogo.
o resto, creio que tem a ver com o próprio estatuto "editorial" que cada um confere ao seu próprio blogue. já o disse aqui umas duas vezes, o respirar o mesmo ar é um espaço de expressão própria. não o obrigo a nada que não seja a minha própria "ideia". posso erigir e arrasar o templo em que acaba por se tornar este simples local de palavras sem pedir alvará, certificado de obras, etc. não me obrigo a incluir respostas, a dar nele respostas, ou a seja lá o que for. às vezes experimento coisas, como os comentários. as estatísticas. é o que me dá na gana. a única coisa a que me devoto, e não é obrigação, é a entende-lo como um espaço que me é caro para a compreensão de mim comigo e de mim com os demais. uma espécie de solidão em comum. é um espaço umbilical e mais seria se o seu autor não tivesse contra si um investimento de anos na comunicação. não sei se me expliquei bem. gostaria que sim. eu não estou a fazer regra para nada nem para ninguém. nem para mim mesmo. por exemplo, criei o metablogue com outro espirito. é nitidamente um "orgão de comunicação blogueira". o seu estatuto é diferenciado.rege-se por condições éticas próprias à sua função.o espaço da blogosfera é profundamente "heteronimico" no sentido em te permite diversificares-te em múltiplas estratégias de comunicação. e, aparentemente, à borla. "
5. Obrigado pelo tempo que vos tomei.
# posted by jpn : 1:08 PM Corrente de Ar: 0
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