quinta-feira, outubro 30, 2003

Não há nada mais simples...

do que nos colocarmos no lugar do outro. e mesmo assim, como dizia josé caldas no seu Acender a Noite, quanta fadiga para ser assim, simples. terça feira o processo de criação da personagem teve uma saída ao exterior. cada um destes futuros enfermeiros foi durante quarenta e cinco minutos ao hospital. fazer o quê? observar. fazêmo-lo todos os dias. neste caso com algumas condições. não podiam usar aqueles estratagemas habituais que utilizam como salvo-condutos (batas, conhecimentos, etc) para passarem por lá sem se aperceberem do lugar que aquilo é . e ao fim de quarenta e cinco minutos para muitos deles é a primeira vez que se confrontaram com a ideia de que o modo como vêem o mundo, e muito específicamente o mundo da saúde/doença, nada tem de absoluto. uma delas resume tudo numa frase: " reparei que todas as pessoas entravam de modo pesado, incerto no olhar, receoso no andar. e que ao sair os seus pés parecia que lhes fugiam dos passos, ágeis no sair dali, mais leves, aliviados." E outra: " é como se naquele espaço houvesse algo que nos leve a sentirmo-nos fragilizados, inferiorizados, aceitando a suspensão daquelas condições que cá fora consideramos inalienáveis à vida". porquê? não sabemos, claro. mas acabámos de abrir um campo novo na nossa experiência comum. é incrível, percebemos, como é que vivemos amaldiçoados por esta condição em que parece só podermos compreendermos o outro quando o fortuito da vida nos coloca no seu lugar.

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