sexta-feira, outubro 31, 2003

A Pedra - Personagem Brinquedo II

É por aqui que começamos. Por uma pedra. Uma pedra molhada. Esta não dá ganza, mas realiza alguns voos de rapina sobre o nosso imaginário. Esta pedra como é que é? Que som tem? E o seu movimento? Esta por exemplo tem quatro pontos de equilibrio. Não é frequente. Mas tem um vincado ponto de desiquilibrio. Um desmoronamento interior. Algures. Não sei onde. Ainda é muito cedo para saber alguma coisa. Ainda é a pedra, através dos meus olhos nela, que tem a palavra. Tem uma cor meio granítica. Com laivos negros acentuados. Quando lhe tocamos percebemos que desde o tronco à base tem uma superfície que parece ter sido aplainada. Alisada. E é...algo de extraordinário se passa...aquele ponto de desiquilibrio desapareceu. Volto a repetir o movimento e tomba. Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Sempre que a coloco procurando que ela se equilibre naquele ponto instável que descobri à pouco ela tomba. Mas se me esqueço dela enquanto escrevo e de repente já não sei bem qual o ponto de desiquilibrio, ela surpreende-me e aguenta-se em pé. Já negoceio com pedras destas e nunca vi nada assim. E esta pedra, parece-se com quê? A sua cor dá ideia de algo que foi queimado, a própria superficie polida parece cinza. Parece também senhora de uma grande solidez, de uma solidez árida, granitica, e, curiosamente, a sua área polida é o terreno de uma supreendente instabilidade. Olhamos para ela e ela parece a solidez em pessoa. Mas, por vezes, de uma forma imprevísivel, tomba. Se fosse uma pessoa, quem seria?

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