terça-feira, novembro 18, 2003
Do facínora o rosto, o nome e a voz
Fac/ínora. Dou por mim, talvez influenciado por um certo dicionário, a soletrar esta palavra, tentando guiar-me pela sua sonoridade. É que o facínora poderá não ser apenas alguém a cuja face o próprio já não pertence. Ao olhar este rosto de sexagenário avançado torna-se claro que a substância facinorosa vai para além da face. Aliás este, o rosto facínora é um pouco como o actor de Herberto Helder: " A espantosa face facínora que tira e coloca e retira o adjectivo da coisa, a subtileza da forma, e precipita a verdade."
Não haja alguma dúvida: para quem não soubesse a maldição que habita neste nome, rosa casaco, o crime maior que poderia ser imputado a este rosto seria o dolo de ocultação do gesto facínora. Felizmente que a imperfeição do mundo não se manifesta apenas no tornar o mundo um pouco mais injusto. E assim também este homem que detém no mesmo feixe um nome e uma face quis ser voz e nesse registo de som pretendeu negar o tenebroso associado ao nome e hoje, aparentemente, dissociado do rosto. E assim se precipitou a verdade : Estamos novamente diante de um homem que nunca percebeu que a verdade e a mentira não são um mero brincar ao rato e ao gato em calabouços insonorizados e insensíveis ao sofrimento humano, mas um jogo dialético constituitivo do respirar democrático que até se permite escutá-lo.
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