sexta-feira, abril 02, 2004
25.4.74 / 25.4.04 . 30 anos de quê? - I
Estou a seguir com muito interesse as notas pessoais sobre o 25 de Abril que Eduardo Graça está a publicar no seu Absorto. Nascido em Maio, em 25.4 de 74, tinha quase doze anos. Ainda estava a tentar colocar os pés no chão à seguir à primeira revolução que foi para mim, um ano antes, a minha vida para a cidade, tinha vivido em Mafra até aí, quando de repente me cai em cima uma outra revolução, nas ruas. Com tropas, carros de assalto, chaimites, megafones, palavras de ordem. Com RGAS no Liceu D. Dinis, com Assembleias de Moradores em Chelas. Com sessões programadas de pancadaria entre comunas e revisionistas no Técnico (a que eu nunca ía). Com vivas á Aliança Povo- MFA quando os magalas encostavam as sopeiras lá do prédio àquela esquina mais tarde designada canto do amor. O 25 de Abril foi, sei-o hoje, uma enorme ludoteca da liberdade, do excesso e da cor, onde os acontecimentos vinham em catadupla, sem os entender. E é por isso que me está a interessar seguir as notas pessoais do Absorto. Havia, naquela altura pessoas para quem aquilo tinha um sentido perceptível, sentido no qual eles participavam. No meio daquela euforia, daquele non sense com que um miúdo de doze anos olhava a sua rua, a sua cidade, o seu país, o seu mundo, havia pessoas que sabiam ler e entender o que se passava. Eu não era um desses. Lembro-me, como se fosse hoje, de, nessa manhã, ter chegado à varanda do nosso andar e ter olhado para o Duarte, o meu vizinho de cima e o meu melhor amigo:
- Está a dar na rádio. Hoje não há aulas.!
- Há uma revolução.
- O que é isso?
- Não sei. O meu pai sabe. Ele tem cá um livro de um general em que fala disso. Ele logo explica-me e depois eu conto-te.
- Mas não há aulas, mesmo?
Foi assim, sem tirar nem pôr, que eu soube que havia uma revolução. Na televisão passavam as imagens do Carmo. Ouviam-se tiros na António Maria Cardoso. Quebrando o impasse, Marcelo e Spínola, encontram-se. Nunca me esquecerei de Marcelo Caetano a sair de chaimite, a ser cuspido pelos populares. Na altura não gostei. Ele era companhia relativamente assídua dos meus sábados, depois do banho familiar, a seguir aos Ranchos do Pedro Homem de Melo e do Se bem me Lembro do Vitorino Nemésio.
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