sexta-feira, junho 11, 2004
O Contraste
"os que decidiram que esse jogo teria de passar pela lota de Matosinhos, esses, deveriam prestar contas ao Partido, se este ainda tiver gente e força para isso." Luís
1. Olhar a fotografia de Sousa Franco entalado entre Narciso Miranda e Manuel Seabra, é um exercício violento, do domínio do asco, da revolta, do desejo de vingança. Exercício que só é suportável porque ajuda a que façamos a nossa catárse desta tragédia, e porque nos surpreendermos com o assomo de bondade que mesmo naquelas condições díficeis insistia em chegar-se ao rosto de Sousa Franco. A minha sorte é que não sou de Matosinhos. Senão nunca mais conseguiria olhar para um boletim de voto na vida. Narciso Miranda e Manuel Seabra, meus camaradas de partido, podem ser excelentes pessoas. Mas de hoje até não sei quando, sou sincero, não consigo vê-los senão como a antítese de Sousa Franco, simbolizando o pior que a politica portuguesa têm, o caciquismo e esta incapacidade de ver o bem comum para além da própria luta de conservação do poder.
2. O contraste que Sousa Franco faz com Narciso Miranda e Manuel Seabra é algo que está para além dos factos, algo que perdurará numa mitologia da politica. De um lado um homem que para servir uma causa que era a sua num Partido que não era o seu se sujeita às mais pequeninas estratégias de sobrevivência pessoal, dando até a vida para isso.
3."Os que decidiram". Talvez fosse muito fácil dizer que apenas Narciso Miranda e Manuel Seabra decidiram que passasse pela lota mas em boa verdade não foram eles que decidiram. As fugas de informação sobre aquilo que a direcção de campanha pretendeu fazer e não conseguiu fazer não surtem algum efeito quando estamos a falar de consequências como a morte de um homem generoso e combativo. Os que decidiram são aqueles que mesmo preocupados com os problemas que poderiam advir esperaram tirar algum beneficio politico da ida aos ósculos temperados com escamas, tripas e ovas.
4. É mau que haja politicos que pôem as suas estratégias pessoais acima do interesse da comunidade politica onde se integram. Mas mais grave, muito mais grave do que isso é que haja direcções políticas ou de campanha que permitam que os partidos sejam assim manobrados.
5. Não há outra forma de homenagearmos Sousa Franco do que, do mais humilde ao mais distinto militante, dizermos que queremos uma política com outros caminhos, com outras formas de nos relacionarmos com os cidadãos. E para isso aqueles que decidiram que Sousa Franco fosse à lota têm de assumir as suas responsabilidades. Depois do acto eleitoral de domingo.
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1 comentário:
"Não há palavras..." "Profundamente tocado...".
Ainda bem que as suas não caíram nesta vulgaridade, mas sim chamaram à atenção algo de muito importante: a responsabilização pela forma como alguns políticos mostram que não o sabem ser.
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