quarta-feira, junho 30, 2004

Que esperar de nós?

Enquanto escrevo, ouço palmas. Não são para mim. No palco, jovens estudantes dançam. De quando em vez levanto-me da cadeira, abeiro-me da terceira ordem e vejo os passos em volta. Fiquei por aqui, a trabalhar, tenho de fazer avançar o guião de um trabalho que estamos a montar na Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian em Lisboa. Temos uma ideia muito simples: pedimos a cada espaço que nos contasse uma história. Uma biblioteca sugeriu-nos uma espécie de quasimodo autista, um tipo que tem dentro de si todas as histórias do mundo; uma árvore propôs-nos uma alegoria sobre a natureza, uma lavandaria contou-nos a história de uma maria lavadeira que fala com as suas máquinas como se fossem as suas filhotas. Uma outra personagem tem um problema peculiar: os seus antecessores esbanjaram o tempo que tinham para viver e viveram mesmo para além dele. É por ela, é através do pacto que estabelece com o diabo que todos os outros personagens são sujeitos à uma espécie de barca do inferno vicentina, só que em vez de ser no final da existência, a pergunta é feita em vida, aferindo ou não da justificação e do direito de continuarem a viver. É claro que isto tudo é uma ficção. No entanto parece-me, o mundo seria bem mais simpático e agradável se este dilema da responsabilidade ética de cada um pelos demais fosse presente na relaçãod e cada um com o seu mundo. O que é que o mundo, nós todos, podemos esperar de cada um de nós?

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