segunda-feira, agosto 23, 2004

Sampaísmo

Não sei como vocês se sentem quando vêm toda esta relutância com que certos politicos avançam para a arena e combate político, mas para mim, que faço um enorme esforço na manutenção de uma mínima qualidade na imagem que tenho da política, incluindo nesta também a que decorre da intervenção partidária - eu disse, também - é desconsolador ver este poder que tantas vezes ninguém parece querer, porque isto, no meu modesto modo de ver, equivale a dizer, este povo que ninguém quer representar. E por isso, no meio da maior perplexidade, pergunto-me, o que é que isto significará? Será que houve uma grande mudança na classe política, e que finalmente muitos deles tiveram a lucidez, a coragem e a decisão de mudar de vida? Será que vai haver agora uma renovação dos nossos representantes? Não parece. No partido onde ainda milito, por exemplo, atrás de uma candidatura de Manuel Alegre, observo a presença de muitos ex-ministros, ou de gente de quem seria de esperar que assumissem uma candidatura à liderança do Partido Socialista, e que a assumissem com garbo, com tenacidade e programa, e pergunto-me. Se é em sede de luta pelo poder que toda esta gente permanece, porquê esta relutância no combate político directo? E quando percebo, compreendo também que já é muito tarde, provavelmente tarde de mais: o que eles estão a dizer-nos já não de uma forma encapotada como sempre se fez mas às claras, é que o poder político que emana do voto popular é uma questão de fachada porque os verdadeiros poderes são aqueles que resultam dos bastidores onde toda esta gente se consome em apertos de mão, abraços e sorrisos shakesperianos. E isto, por muito cruel que possa ser, não será injustiça conotar com a praxis política legitimida pelo nosso presidente em exercício permanente de resignação. Por muito que possa ser cruel, e é-o de facto para Jorge Sampaio que passou uma vida empenhado na luta pelas liberdades cívicas e políticas, é de uma enorme justiça e pertinência política dizer que o sampaísmo é um dos mais destacados patrocionadores desta doença da não representação e da não representatividade que se alojou na vida politica portuguesa. É um maquiavelismo invertido, um maquiavelismo aparentemente ao contrário. Combatê-lo, para lá das distâncias dos cartões e das militâncias da nossa partidocracia, é hoje o primeiro combate que pode ilustrar um cidadão diante da comunidade onde se insere.

2 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente o poder político em Portugal resume-se a dois vectores.
a) Ser correia de transmissão para a implementação local das decisões da União Europeia;
b) Gerir os lobies locais de forma a estes tirarem o máximo proveito dentro da curta margem de manobra que Bruxelas deixa ao Governo de Portugal.
Poucos quererão assumir estas funções...
Quanto ao "Presidente" Sampaio dá a noção de que não soube envelhecer, tudo o assusta.
Num certo sentido o "Presidente" Sampaio é o oposto do americano Benjamin Franklin q

Anónimo disse...

Infelizmente o poder político em Portugal resume-se a dois vectores:
a) Ser correia de transmissão para a implementação local das decisões da União Europeia;
b) Gerir os lobies locais de forma a estes tirarem o máximo proveito dentro da curta margem de manobra que Bruxelas deixa ao Governo de Portugal.
Poucos quererão assumir estas funções...
Quanto ao "Presidente" Sampaio dá a noção de que não soube envelhecer, tudo o assusta.
Num certo sentido o "Presidente" Sampaio é o oposto do americano Benjamin Franklin que foi um ardoroso defensor do Império Britânico durante toda a sua vida e quase aos setenta anos tornou-se um revolucionário, sendo considerado um dos Pais Fundadores da Nação Americana.