sábado, setembro 04, 2004
Arqueo / logia
A primeira dúvida que me assalta ao verificar que desdobraste a minha pele em duas é se é possível fazer a arqueologia de um corpo vivo, de um corpo em movimento. A pergunta induz em erro, é certo. Trata-se em primeiro lugar de saber se o homem, enquanto ser, pode constituir-se enquanto objecto de devassa arqueológica. Porque sim, então é possível e mais do que isso desejável que seja feita a arqueologia dos corpos em movimento. E se o for, chegamos novamente à ideia de humano que nunca nos devia ter abandonado: um ser que convive em vida com a sua história, um ser onde é possivel escarafunchar a pele, as entranhas e procurar a resposta arqueológica. Por falar em memória, chegamos a ele através dos sentidos. E quando saí do duche ainda pensei - nem pensei, dei-me conta como uma circustância bizarra, só depois voltei a pensá-lo - estranho ser assim antes, costuma ser depois, agora percebo, os cheiros podem ser elementos verdadeiramente perturbadores da ciência dos lugares subtérreos.
Nenhuma queixa, nem o mais leve queixume. Que a ciência faça em mim resposta parece-me insólito mas ao mesmo tempo perfeito. E não senti ao acordar nenhum traço da presença do carbono 14 na minha pele, na minha cama, no próprio ar que respiro. Havia um torpor, um ligeiro entorpecimento, mas dessa presença química da indagação refinada e científica, não, nem rasto.
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