quinta-feira, outubro 21, 2004

Escritor do Último Post...

[ou do primeiro dia do meu silêncio no respirar] ...com palavras. Agora, até que a voz me doa, irei escrever com o silêncio. O respirar tornou-se uma doença, não minha, mas de mim. Sempre o foi. Suportá-la é como conviver com o meu riso, a minha alegria, a minha solidão e até, a minha própria (ideia de)morte. Quem não consegue fazê-lo não consegue andar aqui a celebrar-se entre os vivos. Nunca me lembraria de deixar de escrever palavras por causa dessa natureza ambígua. Mas há uma altura em que eu descubro que como aquele duplo constrangimento de que fala Bateson, a manipulação e a armadilha do blogue vivificam tanto nas palavras que escrevo como nas palavras que oculto. E isso tem efeito directo não em todos vós que por aqui passam e uns já vêm do meu próprio mundo real, mas na única-única criatura do meu mundo de aborígene. Alguém que nos ensina corajosamente o que é o amor, merece o melhor desvelo. Não é um sacríficio, o silêncio. É um desígnio, uma aspiração. Só que parece que é sempre cedo de mais para partir em busca dele.O mal de cada um a si mesmo. Não suportaria nunca saber que a minha doença se estenderia para o de lá das paredes muradas da minha casa. E logo para quem. Acresce que ela vai esgotando o seu som no mundo e por isso, na minha cabeça fantasista e delirante, eis uma forma suprema de encontro. Longe do pecado do mundo.Mais próximo do teatro, o único-único lugar deste mundo.

9 comentários:

Anónimo disse...

POR FAVOR, NÃO. DIZ QUE É SÓ LITERATURA, POR FAVOR!
DIZ QUE É SÓ POESIA...

JPN disse...

Como poderia dizer que é "só" poesia, ou só "literatura"? Principalmente a poesia. Nunca é só. E é tudo. E num aspecto terás razão, aqui é tudo (ensejo de) poesia, aqui é tudo (ambição de) literatura. Mas de qualquer forma, obrigado por esse veemente não.

WR disse...

Se o Respirar o Mesmo Ar fechar será um pouco de oxigénio que nos faltará a todos os que como eu aqui passam para respirar um pouco de ar puro. Sei como é difícil alimentar um blog individual mas após ter pensado sobre essa decisão acabei por optar por apenas escrever quando me apetece e quando posso. Não é obrigatório escrever diariamente e é bom ter um espaço onde podemos de vez em quando comunicar o que sob outros meios não queremos fazer. Também é possível fazer silêncio sem fechar o blog.

FM disse...

Pois se é doença ainda bem. O blog dá-se tanto à manipulação quanto o resto da vida. Amanhã cá estarei, à cata de mais. Um grande abraço.

JPN disse...

WR: Palavras justas. Claro que é possivel fazer silêncio sem fechar o blogue. Foi isso que eu escrevi. O RMA não fecha.

Estupendo: caríssimo, vem, deves vir. amanhã, se tudo correr bem pelos lados da nossa amiga, a Celta, respira. E a todo o momento, logo que se resolva o problema tecnológico do convite entrarão novos colaboradores. Se tu prometeres passar por cá amanhã, o RMA continua. abraço

Joana disse...

Não é a primeira vez que cá venho, mas este é o meu comentário inaugural no teu blog. Gosto de respirar este teu ar, por isso o visito diariamente. Por isso tinha de escrever algumas palavras para pedir que não te vás...
Como na vida, também nos blogs (que acabam por ser uma extensão, mais ou menos completa, de nós) podemos/devemos fazer momentos de silêncio, até porque nem sempre temos algo de importante/interessante para dizer, não é?
Ah! Obrigada pela visita :-)

JPN disse...

sem dúvida, Joana. mas do que isso, exprimimo-nos pra conquistar o direito ao silêncio. e é claro que eu ainda não (nunca o conseguirei) conquistei o direito ao meu. ainda vou ter de escrevinhar muito. gostei muito de visitar o teu blog, já o disse. obrigado

Anónimo disse...

jpn ...com as palavras. Gostei muito de ler. Um anúncio silencioso de uma escrita que respira... o ar do teu riso, da tua alegria, da tua solidão e até da tua própria (ideia de)morte. Assim vais conseguindo andar aqui a celebrar-te entre os vivos! Tanto nas palavras que escreves como nas palavras que ocultas. E acredita que eu saberia resistir à tentação, se a tivesse, de pensar que para ti fosse sacrifício, o silêncio. Nem sequer duvido que é um desígnio, uma aspiração, para ti, aprendiz também corajosamente do que é o amor. Uma aprendizagem que não receia partir em busca dele, pois sabe que o mal de cada um partilhado é menos mal. E não há paredes muradas intransponíveis quando uma forma suprema de encontro te coloca longe do pecado do mundo, mesmo que mais próximo do teatro. O amor faz de ti um actor brilhante!

Post Scriptum: Agradeço a tua intervenção no meu blog.

Tiago Mendes (http://midrash.blogspot.com)

L disse...

Caro jpn:

Obrigada por existir. Escrevendo ou não, faça lá o favor de tentar ser feliz.

Abraço

Laurindinha