terça-feira, outubro 19, 2004

Fala de um homem cansado mas não

suficientemente cansado. Há uma lucidez que só o cansaço instala. Como se tivessemos passado muito tempo no mundo e ao acordar já não houvessem estrelas, nem céu, nem terra, nem universo. Apenas uma terrível e lúcida lucidez. Por entre a lassidão do corpo e dos sentidos, uma lúcida e terrivel insistência no pensamento-borboleta. Falo nisto porque não sei falar de outra coisa. Tenho nódulos nas mãos fatigadas de esculpir. Passo os dias nesta artesania das coisas a que não sei dar nem nome, nem lugar, nem forma. O poder, o único poder para mim é deixares de sofrer. E não és tu, é essa tua sofredoura e agastada ideia de mundo que transportas e que todos os dias te enquina o olhar. E não és tu nem a tua sofredoura e agastada ideia de universo. Somos nós e a nossa tendência para escapar ao indízivel. O que eu te estou a dizer é que o único poder que orgulha a política é arrancar-se, nem que seja cravando-te os dedos nas espaldas, essa tua corcunda de massa desistente, de matéria demissionária.

2 comentários:

Anónimo disse...

sofredora! e não sofredoura.

JPN disse...

fizeste bem em dizer. embora o que esteja mal seja a ausência de itálico, não de ortografia. sofredora+duradoura e não sofre+dor(a). este é aliás um recurso que utilizo muito, o itálico para avisar da corrupção da grafia. fizeste por isso bem em lembrar-me. vou já corrigir. obrigado