sábado, outubro 02, 2004

Meia Pensão

A primeira vez que saí de casa dos meus pais, e não contando com essa primeirissima ocasião em que o tempo era tão breve e escasso para dedicar a um amor foi para viver num hotel. Em Leiria, ali diante do rio Lis. O dono era o mecenas do Teatro e eu nessa altura era um peixe-actor. Passei ali cerca de cinco, seis meses. Viver num hotel é qualquer coisa entre o sinistro e a loucura. Não devemos generalizar, claro. Aquele sumptuoso hotel de Banguequoque parecia, como toda a cidade, uma imitação de uma paisagem cosmopolita dos States mas não era nem sinistro nem louco. Faustoso, claro. Que o diga Joaquim Chissano, com quem, talvez por acaso, não reparti banhos turcos, massagens e outros afagos asiáticos. Também o acolhedor hotel de New Haven. Era sombrio, quente, algo bafiento, húmido, um pouco sórdido até, mas não era sinistro. Dei-me conta, ao verificar que tinha dentro do bolsinho da máquina fotográfica as chaves do quarto 205 do Astória, que a minha mania de ficar com estes objectos continua. O que não gosto, mas não enjeito sempre, são os cartões electrónicos.

1 comentário:

Luisa Condeço disse...

...e já reparaste como certos objectos possuem linhas, traços, histórias como aquelas que as nossas mãos contam? Nunca te aconteceu tocar um objecto, pertença de outrém, e ao mesmo tempo tocares o outro? obrigada pelo teu cantinho.