sábado, outubro 02, 2004

Quero a minha mãe!

Inventámos um novo jogo. Ele deita-se na carpete da sala, entre as almofadas. Quero a minha mãe, pai! Faz cara de choro, primeiro, chora depois. Deixo que chore. Eu estou ali. Tenho uma teoria um pouco esquisita sobre isso e, dir-me-ão, ter teorias é já de si desaconselhável: o choro é uma manifestação, uma expressão da alma. Evitá-lo, estancá-lo, é desesmanifestar, desexpressar a alma. O que precisamos as mais das vezes é de sentirmos que alguém está por perto e que se liga à àgua que nos escorre. Essa teoria, por mais simpática que apareça, têm uma cláusula de excepção: quando é o nosso próprio filho que chora na sala como uma centopeia com calos. Fui-me a ele. Agarrei numa almofada e comecei a choramingar também. -Quero a minha mãe! A face do Peter Pan quando chora e ri ao mesmo tempo é uma delícia: - Eu é que quero a minha mãe. - E eu a minha. Atira-me a almofada. E eu outra. E ele outra. O jogo evolui. Mais uma almofada para cada. Guerra de almofadas. Aquele riso bonito, sincero, forte e tresandando a terra do nunca. O mundo volta a ser mundo, até ao próximo desabamento. Inventámos um novo jogo, Peter Pan.

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