quarta-feira, novembro 17, 2004
Casa de Pedra
Embora triste, ou não fosse a tristeza, esta veio envolta num estremecimento, numa maior alegria. Parecia feliz aquele fim de tarde que lhe trazia um olhar renovado, estendendo-se até ao Tejo, à ponte. Talvez por isso ele dela não se apercebeu, nem se deu ao trabalho de erguer aqueles pequenos diques com que se habituara a suster as possíveis derrocadas. Os lorenines, os shacras, os tantras, o yoga, ficaram ali à espera de vez, e depois, era já demasiado tarde. Tocou o telefone e através dele veio a primeira desistência. Uma história quase infantil. Uma princesa fechada na torre de um castelo. Mesmo com bolinhos de coco, é natural que a noite se tenha feito entrecortar, de hora a hora, numa vigilia meio aflita, ou estremunhada. Depois, porque as tristezas têm de vir assim, às dúzias, embrulhadas em papel de manteiga, veio a segunda.
A partir daí o homem deixou de chorar. Vi-o caminhar por entre a turba, procurava uma casa, não a sua casa, talvez esta lhe parecesse pequena para o desmancho de dor que se aproximava, desbravava por dentro da mole humana indagando pela casa de pedra.
Entrou na igreja, indiferente aos cânticos, à própria voz do sacerdote, isolou-se no seu pequeno mundo tão próximo da loucura e preparou-se para o rebentamento das águas.
Está frio, ouvi-o ainda dizer.
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1 comentário:
(respiração retida)
v.
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