domingo, dezembro 12, 2004
O Inverno que houver
1.
"SENHOR
Onde está o pássaro?
CRIADO
Desapareceu, Senhor!
SENHOR
Desapareceu?
CRIADO
Evaporou-se, Senhor!
SENHOR
Quem é que...? Quase me esquecia que só um de nós a poderia ter aberto...
CRIADO
"Quando eu abri a gaiola ela estava vazia, Senhor ! Até disse para os meus botões, "Que adianta estar vazia se está fechada!" "
2.
"SENHOR
Não teria sido mais fácil teres-te levantado e saído? Teres acabado com esta farsa? O que me espanta é que tu consigas ser menos do que aquele bicho engaiolado. Vê lá se ele hesitou...tão frágil, tão minorca que cabe numa mão de criança e fugiu...só tu hás-de ficar aqui idiota! Porque é que me obedeces se o meu poder se esvaziou completamente?"
Em "Evaporação dos Pássaros", teatro, 2000. Estava-me destinado cumprir o preceito daqueles autores cretinos e com excesso de ego que a propósito de tudo e nada estabelecem um link com o seu trabalho. Corro o risco por excesso de amizade. Sempre que ela fala apetece-me estar lá, nem que seja na invisibilidade de um engasganço. Ou de um sorriso cúmplice. E principalmente por aquela pergunta, o que faremos para desaparecer?. À qual comecei a atribuir um papel central na minha vida. Quando percebi que estava nela a chave do sempre escorregadio permanecer.
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4 comentários:
Belíssimo. Fez-me lembrar a questão da timidez. Tão tímidos que nos tornamos discretos, de preferência invisíveis. Apaguem-se as luzes. Ou não. E se na raíz da timidez estiver antes um profundo narcisismo? Afinal, se não estivéssemos tão convencidos de que todos reparam em nós, ou de que o que fazemos é importante, por que recearíamos os outros e o seu julgamento?
A timidez não é defeito..se formos oportunos!
clap.. clap..
Como gostei deste post!...
O que farei para descolar essa sensação?
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