quarta-feira, dezembro 15, 2004

Porquê as crianças e a fome?

Não fui assaltado por nenhuma pieguice de Natal. Andava com o post anterior engasgado há uns dias. Só que não queria que falar desta morte anónima fosse um exercício de piedade, caridade, solidariedade (conforme a perspectiva politica em que o lesseis). Morrem muito mais do que crianças e muito mais do que pela fome. Mas nenhuma outra morte fala tanto do horror a que nos conduzimos. Em nenhuma delas como aqui a razão, no que ela tem de contorcionista hábil e extremada, pode tão pouco no seu hábito de vir em socorro da vida que vivemos. Comemo-nos uns aos outros. A desporporção, o desperdício, a gula, o excesso é o devorar do mínimo que ao nosso lado uma cria necessitava para viver. Socialmente correcta esta antropofagia é ainda mais repulsiva do que a das comunidades canibais. Talvez não exista verdadeiramente uma saída. Existe procurá-la. Não sabemos o que fazer. É humano e natural perante a dimensão da catástrofe ética.

Sem comentários: