quinta-feira, janeiro 13, 2005
Há quem se esteja (apenas) borrifando para a política
Acordei o dia mal disposto. Também quem me mandou a mim começá-lo a ler o Correio da Manhã e depois, a croniqueta de Luis Filipe Menezes, hoje intitulada, deixem-no falar, apontando as incongruências de José Sócrates?! O que mais me irritou é que, para ser convincente, ele não tenha sequer precisado de ser demagógico ou enquinado. Pelo contrário, à sua maneira, e nos seus pressupostos políticos, deixou apenas a correr as contradições do discurso do lider socialista.
Como é que isto é possível, pergunto-me? Como é que é possível que um politico com o percurso de José Sócrates, seja o principal protagonista da descaracterização e desvalorização do seu capital político? Uma das hipóteses, aquela que gosto menos aliás, é a de que hoje políticos como Sócrates, que se assume como candidato a primeiro ministro, passe por um período de ventriloquismo, onde o que ele diz antes e depois é gerido pelos seus assessores de imagem e comunicação. E para estes, se ele hoje afirma que o défice se vai manter abaixo dos 3 % e que não vai haver mais receitas extraordinárias e se depois, o seu coordenador da economia o desmente, a incongruência e a incoerência é o menor dos males. O que é importante nos seus gabinetes de crise, eufemismo muito utilizado nestas áreas, é que haja um conjunto de factos que se sigam uns aos outros e que não atribuam a nenhum um valor argumentativo muito especial. Já imagino o lider a dizer que não. Saltavam-lhe logo em cima resmas de análises, sondagens, estatísticas, flutuações nas intenções de voto. A maior parte deles despreza os políticos. Acham-lhes graça, têm até alguma familiaridade com eles, ou melhor, com algumas suas particularidades, fulano de tal não é fulano de tal, é uma enorme verruga que é necessário esconder, sicrano é aquela mania ciciante de falar, ou aquele trejeito de beltrano que destrói o mais convincente dos discursos. Faz parte da vida, todos nós tendemos a dramatizar o nosso papel neste mundo e estes têm nessa dramatização grande parte da sua actividade profissional. E por isso, nada melhor que reduzir os políticos a uma espécie de animaizinhos amestrados que não dizem que não. Assusta-me este desprezo que lhes merecem os nossos políticos. De todos eles, e eu tenho grandes amigos que se dedicam a este ofício, os melhores são ainda os que se estão (apenas) borrifando para a política.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário