quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Absolut Live IV
Olho as faces polidas de Santana Lopes, Paulo Portas, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa. Desagrada-me que o líder do meu partido descaia na tentação absolutista. Para um político tão habituado a resguardar-se nas comissões de sábios estranho que não tenha encontrado nenhuns disponíveis para lhe aconselharem a não traduzir para o discurso político os seus sonhos absolutistas. Mas mais estranho ainda é ver naqueles rostos da oposição uma concordância em absoluto com essa aspiração. De Santana e Portas é bom nem falar. Jerónimo, bem esse, por mais boa vontade que tenha não cresceu politicamente num partido com uma grande tradição na defesa dos valores da democracia política. Quanto a Louçã, que com a sua percentagem eleitoral promete mundos e fundos aos portugueses, basta percebê-lo.
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4 comentários:
esta tua saga Absolut live, aproxima-se do nivel (se me permites)shakespereano, isto é, ricardo 1, ricardo 2, ricardo 3... e por aí fora.
o problema é: quem quer que ganhe não vai merecer o título de rei.
abraço joaquim
Já sei que vais achar horrores de mim, mas pergunto na mesma: vais dar-te ao trabalho de ir lá?! Manifestar o quê? Eu não tenho nada a dizer, não acredito, eu não faria melhor e nem sequer quero que pensem, se lá fosse votar em branco, que estaria a manifestar o meu total descrédito. Não podemos manifestar-nos sobre o que não existe, e a governabilidade não existe neste "país à beira mar plantado"
rsrs. abraço, f.
Quatro Casamentos e um Funeral
No Público foi publicado este texto interessante
A Maria é a República Portuguesa. Os outros são muito conhecidos :-)
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Quatro Casamentos e um Funeral
O António afiançara à Maria que a vida seria um mar de rosas e cheia de prosperidade. O casamento foi feliz e despreocupado. O António era um gastador compulsivo mas a Maria não queria saber nada dessas coisas de dinheiro. "A família não são números", proclamava o António a quem lhe chamava a atenção para os excessos. O que interessava era a qualidade de vida, as grandes festas e as aparências.
Quando um dia, repentinamente, o António fugiu de casa deixando apenas as prestações das dívidas por pagar, a Maria entrou em desespero. Estava de tanga. Atemorizada, casou com o Zé Manel, depois de um curto namoro. Afinal, o Zé Manel parecia ser bem mais ajuizado que o António e talvez trouxesse alguma ordem às finanças lá da casa.
Os rapazes sentiram logo algumas diferenças. As semanadas foram congeladas, o Zé Manel não lhes dava dinheiro para o autocarro e o discurso mudara: "Temos que poupar, não podemos gastar o que não temos", dizia o Zé Manel. Mas aquilo era só da boca para fora. Os costumes da família estavam bem enraizados e, no essencial, tudo continuou como no tempo do António.
Apesar das dívidas cada vez maiores, não se cortava na cozinha, nem nas férias, nem nas contas da água, da luz ou do telefone. Nunca se dizia que não a um livro, a um disco ou a uma ida ao cinema. Não se mexia em direitos adquiridos. Por vezes o gerente da Caixa telefonava, inquietado com o saldo do cartão de crédito. E de vez em quando vendiam algumas jóias antigas para acalmar os credores.
Até que um dia o Zé Manel anunciou que se ia embora. Arranjara um emprego no estrangeiro, muito bem pago. E disse à Maria: "Não te preocupes, eu vou-me embora mas arranjei-te marido novo. Casas-te com o Pedro. Ele cuida de ti."
A Maria assim fez mas o enlace durou pouco. O Pedro era um bocado estouvado e tinha alguns amigos pouco recomendáveis. O pai da Maria não gostava dele nem um bocadinho e fez-lhe a vida negra. E um dia, o Pedro chegou a casa e descobriu que tinha a mala nas escadas.
Agora a Maria vai casar com o José. Foi o pai dela que arranjou o casamento. O José faz-lhe lembrar o António, de quem era muito amigo. O José propõe-se gerir as finanças familiares de outra maneira. Quando a Maria lhe pergunta como é que ele vai fazer ele explica: "É fácil, o objectivo é sermos felizes."
O José já prometeu que as semanadas das crianças vão ser aumentadas, porque é uma vergonha que os nossos filhos tenham menos dinheiro que os filhos dos outros. Vai comprar um computador lá para casa e ligá-lo à Internet, em banda larga. Vai haver telemóveis para todos. "É um choque tecnológico", explica ele. E promete à Maria, que continua a ser a única a trabalhar lá em casa, que não vai precisar de lhe dar nem mais um tostão. O José vai gerir a casa com o que tem. E daqui para a frente, quem paga o café e os cigarros é ele. Essa mania do consumidor-pagador já era.
Soa a banha da cobra mas a Maria quer marido e os bons pretendentes não aparecem. A família da Maria gosta do José. Parece que vem aí um tempo novo e os rapazes já estão fartos de más notícias. O José é recebido lá em casa de braços abertos.
As más surpresas vão começar a chegar lá para o fim da Primavera. E um dia, alguém vai reparar que o título desta história é "Quatro Casamentos e Um Funeral".
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