terça-feira, fevereiro 15, 2005
Família, odeio-te!
"A Marca Vermelha", de Delphine de Blic, iniciou o ciclo Família, odeio-te!, no Institut Franco-Portugais. Este filme que surge na sequência de um desafio de uma cadeia de televisão que depois o recusou por ser muito intimista e poder ser encarado como um ajuste de contas, é o diálogo com uma ausência. Madeleine de Blic há quarenta anos que tem estado lá, no Sul da Índia em missões de ajuda e apoio, e essa presença foi também sentida como uma ausência pela sua filha mais nova, Delphine.
O filme, que surge como uma investigação, com base em testemunhos quer junto do marido, dos filhos, naturais ou adoptados, da irmã de Madeleine (que tratou de Delphine como se fosse sua filha)acaba por ser um ajuste de contas de facto. Mas não um ajuste de contas de uma filha com a sua mãe. Vemos que a mãe aceita o jogo porque também ela quer ajudar a filha a resgatar a sua história. Não deixa de ser curiosa a relação que isso produz no modo de filmar. Pelas ruas da cidade indiana onde vive Madeleine, Delphine filma-a quase sempre de costas. É quase sempre aquela mulher que diariamente se coloca "frente ao espelho e marca na testa um ponto vermelho, símbolo da mulher indiana que se tornou. Partiu há 40 anos para a Índia e, em boa verdade, nunca mais voltou. "
Na conversa que houve a seguir Delphine foi confrontada com esta natureza intimista do seu trabalho. Uma mulher que disse tomar esta história muito como a sua própria história disse: "- Pergunto-me se em vez de uma mulher fosse um homem, se compreenderíamos da mesma forma esta ausência? Porque as nossas infâncias estão tão frequentemente despovoadas dos nossos pais, encoltos em negócios, trabalhos, viagens."
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