segunda-feira, março 21, 2005
MUDAR DE VIDA
Assunto sério. Assunto sério e sigiloso. Procuram-se companheiros de aventura. Podem ser clones de Tom Sayer e Huckleberry Finn dispostos a sair deste país. Estrada fora. Como o poeta. Os vadios. Ir pelo mundo. Ir ao fundo. Talvez voltar. Gente com ambição de um mundo-documento. Em flashes como peças separadas para montar. Bricolage do humano. Ouvir o anoitecer na estrada. Os pássaros. Haverá ainda pássaros? Falar com pessoas como se não se quisesse senão falar com pessoas. Gente capaz de escrever "Volto Já" e sair sem pestanejar. Descobridores do tempo. Ásia, África, Europa, América. O mundo inteiro ir. Procuram-se. Companheiros de aventura. Assunto sério. Guarda-se sigilo. Resposta a este apartado.
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9 comentários:
Aceitam-se companheiras?
Éclair
Não sou propriamente clone de Tom Sayer mas ha o desejo do pó das estradas, das noites intensas sem dormir debaixo de um céu estrelado, a estrada sempre ela nos desejos mais profundos. Nómada.
(Não costumo responder a apartados sempre me ensinaram a não respoder-lhes :-) )
Como terapia alternativa acho bem.
Quanto a "gente capaz de escrever volto já e sair sem pestanejar", isso faz-me lembrar a longa tradição do homem português de dizer "vou ali comprar uma caixa de fósforos", e de nunca mais voltar.
Lá dizia o Pedro, há muito, muito tempo, lembro-me de mo dizer com aquela voz grave que só ele sabe ter, de mo dizer ao ouvido como se de um segredo se tratasse, quando eu ainda acreditava que a solução era partir mas faltava sempre a danada da coragem! Caramba! Mas tu, não!
Longe d'aqui
Nascemos no alto mar no meio da tempestade
ali a meio caminho
'tre o cabo das Tormentas
e o céu do Paraíso
a alma mareante
o fogo de San Telmo
o luto o desespero
pel'alegria breve
de navegar um instante
um século, uma História
enquanto fabricámos
no ventre do porão
paixão
depois, cuidadosamente
encheram-te a cabeça
de histórias de aventura
de batalhas de Ourique
Reis mouros esmagados
de heroísmos vários
de feitos de bravura
de mundos viajados
poemas inflamados
a Grei, Prestes João
o mapa cor de rosa
a virgem aparecida
el-rei D. Sebastião
um Império Mundial
caramba!
às vezes perguntámos
parando por momentos
num vendaval de Santos conquistas embaixadas
com coches de ouro ao Papa
marfim e arrecadas
e a gente sempre a olhar
a olhar
sentíamos mar nas veias
e febres de partir
encantos de Medeias
tentações de fugir
mas ficámos amarrados
ao Convento de Mafra
chorando o desencanto
de ficar que o forte forte vento
não nos deixava enfim
nem estradas de sair
nem estradas de chegar
nem traços de partir
nem posses de alcançar
p'ra dentro do Futuro
adiante
e tinhas razão que o certo certo mesmo
podia ser aquilo, podia ser o vento
podia ser a História, que há tantas tantas formas
de a gente dar memória
e às vezes o silêncio 'té dizem que é dourado
mas um Homem fica parvo
com a força do Futuro contida no Passado
e devotadamente, Aljubarrotamente
crê!
e conformado crendo
que as nossas aventuras
só foram pela canela pimenta e especiarias
e só fomos heróis em terras e lonjuras
por querermos espalhar a Fé e as teorias
que nunca violámos
que nunca escravizámos
nem traço de chicote nem outras judiarias
nem alma de ladrão morrida nas galés
e ao mar!
de 30 em 30 anos
às vezes mais - 50!
até acreditamos
rumamos à tormenta
batemo-nos e vamos
p'rá liça do Futuro
com a nossa força grande
antiga
mas contados p'los dedos
assuntos bem saldados
ficaram intenções
castelos abandonados
crianças sem saber
o sol pr'os reformados
remessas de emigrantes
e o mar que eles voltam voltam sempre
cinzentos sorridentes
cheirosos influentes
de todos os quadrantes
e por todas as frentes
com cupidez te amansam
com polimento avançam
e zás...
Nas grutas de uma vida
um homem muda tanto
e de criança a velho
e de truão a santo
o salto é tão pequeno
o trilho é tão estreito
tantos pavores na fronte
tantos calores no peito
tanto ouro na corrida
e a força da razão e a força da subida
mãos quentes de bater
mãos magras de sangrarem
e quanto mais procuras ou mais te procurarem
- caíste!...
tentas saber como é
e tentas aprender
aprendes a sorrir
aprendes a esconder
aprendes a vender
aprendes a comprar
aprendes 'té a amar
assim assim, se tanto,
desconfiadamente
a engolir o pranto
a não te olhares de frente
enquanto sonhas longe
ai tão longe daqui e tão
diferente
e embarcas pelo deserto
resolves-te a partir
juntando três amigos
sem jeito ao despedir
duas frases erradas
- Não era nada disto
que eu vos queria dizer, pá
e vais e é natural que sintas
vontade de o fazer
vontade de viver
aquilo que não te dão
para isso tenta a China
o Laos o Alaska a Índia
a Tailândia e o Japão
o Barhein!
e rumas na paisagem dominado pela cor
três trapos p'rá viagem
um cesto um cobertor
impostos declarados
a alma decretada
passaporte conforme
e um pão
e gritas ao silêncio
e vai saber-te bem
gritar sob os comboios nas pontes quando passam
ficaram tantos tipos
olhando pela janela a sua própria vida
tu não!...
lá longe no deserto
relembras o teu sítio
tão longe na distância
no peito ali tão perto
e vem-te à boca o travo
dessa questão eterna
do ir ou do voltar
do ir... e do voltar...
e tu...
MUDAR DE VIDA, CORTAR O CABELO!! DORMIR NO CARRO TODO NU EM PELO!!!
saúdo o regresso dos comêntários em grande! Será que para se subir na carreira é preciso mudar de vida?!
claro que sim, éclair. o espírito nómada é como os anjos...
E como são os anjos, para além de não terem costas?
Até Já, eu não volto!
Consigo até ouvir.
Mas, o até já, que não avisa; isso não!
Existem sempre tantos lados...
Gostava de ir, gostava. De não voltar, por ser sinal, que...
Mas, então o que é que eu faço aqui, nesta vida, cujo papel represento hoje? Que papeis são os dos outros, que faltas, me deixa(ria)m eles? Elas? Tantos lados, tantas partes, que nos ladeiam e preenchem o vazio, que tantas vezes, quase nos obrigamos, a se(nti)r...
Que faltas lhes faria eu?
Peso, este a que nos votamos, quase obrigados, de não sermos nós, sendo o que não queremos.
Liberdade!?
E é o Amor, realmente livre? Vou! Sem Amar? Deixando de Amar, buscando o Amor? E existe algo mais precioso, do que aquele que se sente hoje? Que nos prende a vida e nos liberta a alma, dentro de uns olhos negros, carregados de tanta Alma.
Mudar de vida!?
De dentro para fora. Daqui a algum tempo, gostava de voltar a comentar este teu post e partilhar contigo isso mesmo; "Consegui, mudei a minha vida!" e se/quando o fizer, vais ouvir-me rir.
Obrigada pelo exercicio.
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