segunda-feira, março 21, 2005
Nem tudo é piada
Quando escrevi a notícia anterior, o texto caminhava para várias tentativas de humor. A notícia presta-se a isso, mais parece um produto do primeiro de Abril do que do Dia Mundial da Poesia. A tentação era muita. Cheguei a escrever: " os custos de uma eventual deslocação - em avião, ambulância ou carro fúnebre - correm por conta quer dos pacientes quer daqueles que perderam por completo a pachorra." A brincadeira com a cirugia ocular do ditador também estava a pedi-las. Mas depois lembrei-me dos milhões de pessoas afectados por este delírio ditatorial. Afectados duramente, esta decisão é uma sentença de morte para muitos. E lembrei-me, há uns valentes anos atrás, de ter estado a estagiar na SIC. Uma tarde de sábado estava a fazer uma notícia sobre mais umas mortes na Cisjordânia. Lembro-me que apenas com uma palavra brincava com a situação. Uma tentativa pífia de humor. Mostro o texto ao João Adelino Faria, que era o editor. Ele corre o texto e pára justamente nessa palavra. Esperei que ele me batesse nas costas, salientando a minha genialidade, era esse o espírito da estação. Em vez disso, ouço:
"- Tira isso. Quando houver mortos nunca procures ser engraçado."
Ficou-me para a vida.
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