domingo, março 20, 2005
Uma e a mesma questão
Ao ler este post do Luis Tito do Tugir em Português, e este Fio do Horizonte de Eduardo Prado Coelho, sinto-me dividido: Carrilho ou Ferro Rodrigues para a Câmara de Lisboa?
Por outro lado discordo tanto de Luis Tito como de Eduardo Prado Coelho: a questão da visibilidade mediática entre Carrilho e Ferro Rodrigues não se coloca numa perspectiva de antagonismo. Aliás, o grande problema destes dois excelentes ministros de António Guterres e dos poucos que deixaram obra original, própria nos ministérios que tutelaram parece ser o das suas péssimas presenças mediáticas.
Parece que Eduardo Ferro Rodrigues, por ter aquele ar pesado, circunspecto, por ter uma grande inabilidade discursiva, tem uma pior prestação mediática do que o seu camarada de partido, Manuel Maria , que é aquilo que se poderia dizer na gíria, um janota, muito preocupado com o físico e com a aparência e um voluntarista da comunicação que estará sempre disponível para aparecer e ser aparecido. Mas não é isso que se passa. A diferente atitude dos dois face aos media, proactiva de Carrilho, reactiva de Ferro, não esconde a péssima prestação de ambos*.
Com vantagem para Ferro Rodrigues. Manuel Maria Carrilho terá sempre dificuldades em mostrar aquilo que já demonstrou à saciedade: cultura, brilho, competência, arguta inteligência e visão política. Parece incompreensível como é que um homem com uma riqueza cultural e científica como a de Manuel Maria Carrilho é tido maioritariamente como um janota atoleimado e com ânsias de protagonismo e raramente como o melhor ministro da Cultura que Portugal teve no pós vinte e cinco de Abril.
Aliás, é um disparate pegado aquilo que se passa com Ferro e Carrilho: o primeiro parece que tudo faz para não ser mediatizado, numa recusa que em certos aspectos, como o de se recusar a não trabalhar a oratória, chega a parecer arrogante, e por mais que faça isso só consegue reforçar e consolidar, mediaticamente, a sua imagem de competência e de seriedade. O segundo que nada enjeita no sentido de poder ser um pouco mais mediático, parece que quanto mais aparece só dilui a possibilidade de poder vir a ser reconhecido na sua competência e seriedade.
Eu cá por mim, se tivesse de escolher entre um e o outro para a Câmara de Lisboa, talvez utilizasse métodos menos científicos mas mais seguros: um, dó. li, tá, quem...
[Quando falo de péssima prestação mediática, não estou a exprimir a minha opinião, apenas a vulgata. Uma coisa que sempre me pareceu ridicula, ou uma incapacidade de olhar a questão da mediatização para além dos padrões e das bitolas habituais, é dizer-se que um homem que tem uma tão má prestação mediática consegue ter excelentes resultados eleitorais. Felizmente o eleitorado compreende um pouco para além dos fazedores de opinião e dos analistas dos média]
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3 comentários:
Caro JPN
Concordo em absoluto com a sua análise. No entanto e para além dela, continuo a pensar que para gerir a Capital é necessária uma visão mais abragente do que aquela que Carrilho transmite e que acredito ser o grande trunfo de Ferro.
Todos sabemos que a imagem faz parte da política, mas, depois de uma política só de imagem feita pelo governo anterior, os eleitores começam a perceber que não basta ser telegénico.
Carrilho serve para a Cultura. Para o culto do Belo.
Ferro Rodrigues entenderá de assuntos sociais. Até promove festas para amigos em casa alheia.
O melhor candidato para a Câmara seria sem dúvida João Soares. Percebeu-se que ele amava Lisboa (sem ironia).
Noutras circunstâncias teria eliminado o comentário anónimo, só podia ser, anterior. Mas respirei fundo um e o mesmo ar. E lembrei-me de um texto antes de haver blogues, num jornal regional onde escrevi, uma pega antiga, por causa da censura. Nesse texto defendi, contra aqueles que, como António Barreto, pugnavam pela não disponibilização dos arquivos da Pide em casos que eles manifestassem matéria irrelevante, que fazê-lo, era dar a ideia de que a PIDE só agrilhoava, maltratava e espiava este país por matérias que ela mesma considerava relevante o que era um branqueamento da natureza totalitária da acção repressiva do Estado Novo. Apagar o comentário anterior é apagar o rasto da vileza, da cobardia, que se esperava que medrasse quando se procedeu à mais ignóbil tentativa de assassinato político de que, desde Sá Carneiro, há memória. Não medrou. Este estilhaço é de pólvora seca. Além disso confio inteiramente na inteligência e na sensibilidade dos leitores, anónimos ou não, não interessa, do Respirar.
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