segunda-feira, abril 25, 2005
00.00
são 23.42 do dia 25 de Abril de 2005, estou a arrumar pacotes com livros, enquanto os encaixoto arrumo-me a mim no possível espaço que é um corpo, o meu, apetece-me passar os próximos dezassete minutos a escrever, parece-me uma boa ideia para uma revolução, escrever, dedicar um determinado tempo a fazê-lo. são 23.45, há trinta e um anos um ciclo estava definitivamente fechado, sabiamo-lo, Caetano saira de chaimite do Quartel do Carmo, Spínola segurara o poder para que este não se estatelasse no passeio, é tudo uma coincidência, estar aqui a arrumar caixotes com livros no dia 25 de Abril de 2005, são 23.49, ainda não disse nada daquilo que para mim é importante dizer, hoje disseram-me que por vezes me lamurio da solidão, não será tanto assim, pelo menos quando estou só não tenho trava-linguas, não penso no que não devo, no que não faça, no que não diga, no que não escreva, no que não-não, são 23.51, estou quase a desistir, nada tenho a dizer que possa ser, no meu desejo de o dizer, justificação para o tempo que a palavra demora a ser proferida, gostava, isso posso dizê-lo, que o mundo fosse de um outro modo, que o meu país fosse diferente, que houvesse mais festa, mais rua, mais poder, mais pessoas, gostava que não me dissessem que o big brother saloio, pidesco, está de regresso das formas mais inimagináveis, gostava que não me contassem que os direitos laborais de um europeu são maiores do que os de um chinés e que ambos estão num outro mundo do que aquele ruandês que se afogou no mar, terra de ninguém, 23.58, fez-se uma revolução para isto, para trinta e um anos depois um mancebo com instrução superior, escrevente e escrevinhador, passar quinze minutos a escrever duas ou três coisas sem sentido e todas misturadas e depois, depois o quê? Depois nada. 00.00
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2 comentários:
jpn: reescrever os 18 minutos do post como se o 25 de abril não tivesse acontecido poderia ser um exercício interessante. talvez até nos melhorasse a todos o humor neste 26 de abril, início de semana depois de fds prolongado e de um 25 de abril que não se sentiu nas ruas. e olha, anita, gostei do teu comentário, mas acho que mais do que a decisão consciente de fazer UMA escolha verdadeiramente revolucionária, podemos fazer todos os dias dúzias de pequenas escolhas micro-revolucionárias - talvez sejam essas que venham a fazer a diferença.
gosto muito deste post, talvez pelo fim, talvez pelo vazio... as ideias são o mais importante. Como sabes tenho grande respeito pelo autor.
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