quinta-feira, abril 07, 2005

Amabilidade (Ser Amável)

Às vezes escrevo na exaltação. Não estou exaltado mas é lá, na exaltação que escrevo. É como se exaltasse a voz para ver melhor, eu sei o que a exaltação faz às vozes, à visão, como deturpa e cega os horizontes, mas eu também preciso dessa cegueira para ver. Para continuar a sentir-me vivo. E então se é Abril, se não tenho alguma dúvida de que posso afirmar-me na primavera da minha vida, então exalto-me mais, como se por causa desse calor da terra, dessa amenidade do ar, eu ganhasse novo fôlego, redobrado alento. É nesses momentos que me deito a pensar em como gosto do que a esperança faz à vida que levamos. E não faço distinção alguma entre ricos e pobres, canhotos e direitos, gajos e gajas, cultos ou incultos, gajos da arte ou gajos das pedreiras, das cantoneiras, do lavrar dos campos, aprecio essencialmente a varredura de luz que se espalha pelos mundos em que acreditamos, ontem tomei dois comprimidos para a neura, pensei, vou à luta, estiquei o braço no negrume de uma noite tão cava que até a mim, que a vivo, me assustou, souberam-me bem, tão bem, esses remédios do espirito, eu estava por tudo, hoje de manhã acordei a sorrir, disse, que dia bonito que se me apresenta, pensei na amizade, pensei no amor e na amizade mas confesso, o primeiro lugar que me ocorreu foi a amizade, acendi a luz, descobri então, os meus comprimidos de ontem eram dois smarties que o peter pan tinha deixado ficar na mesinha de cabeceira, e por isso digo, gosto, adoro, amo o que a luz e a esperança faz à vida que levamos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Que sorriso bom este texto me touxe! :-)

Anónimo disse...

Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização.
(Martin Luther King)
Hoje deu-me para as citações. Está um dia do caraças! Grande beijo

Anónimo disse...

tenho duas coisas e uma conclusão:

1ª tenho pânicos, grandes pânicos, enormes pânicos. sofro desse mal da sociedade moderna, os grandes e incontroláveis ataques de pânico. sobretudo quando me vejo encarcerada entre magotes de carros no meio de uma qualquer estrada. sobretudo se essa estrada for chamada de IC e mais ainda numerada de 19.

2ª e depois, tenho 3 pastilhas cor-de-rosa. sempre 3, porque já sei por experiência que uma ou duas não chegam e quatro dão moca. estão sempre em cima do tablier do carro (excepto quando numa curva mais radical me caem aos pés e se perdem entre pipocas, garrafas e rebuçados). e são sempre as mesmas 3. há mais de 10 anos que as mesmas 3 pastilhas me acompanham quando me faço à estrada. sei que, naquele terrível momento em que se me aperta o peito, em que julgo sufocar, prestes a afogar-me em medos loucos, me basta olhar para elas, quase deitar-lhes a mão e... stop! nesse momento termina a agonia.

conclusão: não há nada como a nossa mente para se enganar a si mesma.

ps: quando eu me for, por favor, ao enfiarem-me na grande boca de fogo onde vou ser cremada, não se esqueçam das minhas 3 companheiras.

ps2: afinal também tinha um ps

Unknown disse...

"Ser amável" comporta estar disponível para ser amado e para amar.
Que belo é o dia em que se acorda com toda essa disponibilidade, que é por sua vez toda a disponibilidade do mundo.