sexta-feira, abril 01, 2005

Arquipélago

Quando escrevo distancio-me, libertando-me, daquilo que escrevi. Quando alguém me lê e por algum modo se relaciona empáticamente comigo, aproxima-se de mim pelo lugar onde eu me decidi a constituir-me como distância comigo. Não há por isso alguma clareza relacional entre um blogger e os seus leitores. Estes encontram-me onde eu decidi não estar, estando onde eles nunca me encontrarão. Isto passa-se entre blogger e leitores, mas não é verdade da mesma forma entre bloggers, e todos nós somos leitores uns dos outros. Os bloggers têm tendência a reconhecer este fenómeno, porque também o vivem. E por isso, aqueles que não tendem para o egocentrismo, ou melhor, aqueles que assumem o blogar como uma permanente investida contra o seu egocentrismo, conseguem na mesma sonhar com esta miríade de alter-egos, mas encaram esse sonho, essa fantasia, como uma continuidade da experiência da escrita. É claro que falo dos bloggers que conheço ou que espero um dia vir a conhecer. Falam-me da grande diversidade de experiências que aqui andam e tudo isso me parece estranho. A experiência do blogar redimensiona-nos na condição de ilha, de ilhas. É uma solidão em comum.

4 comentários:

Anónimo disse...

O perigo (ou o fascínio, para quem não tiver realmente medo de se libertar nas suas palavras) da escrita é esse. Não podemos evitar que o outro se encontre, aqui ou ali, com aquele eu de que tentámos libertarmo-nos, que queremos que se transforme em simples palavras bonitas*. Aliás, se nos libertámos e distanciámos realmente, já não são nossas aquelas palavras, são de todos. Se fossem nossas, estariam guardadas na mais secreta de todas as nossas caixinhas.

Ao distanciarmo-nos nas palavras, prendemo-nos ao papel. Não, pior, quando era ao papel era mais perecível. Agora, neste mundo online, as palavras tomam uma eternidade e uma infinidade própria e consequente ligação a todos os outros que por aqui hão-de passar. A globalidade... para o bem e para o mal.

Não é egocêntrico, aquele que se vai lendo por aí. Que se revê não em nós, mas nas palavras que outrora foram nossas como se para ele tivessem sido escritas. Antes pelo contrário, é de tal forma aberto e generoso, é de tal forma anti-alter-ego, quase altruísta, que é capaz de viver com o facto de que alguém pôs em palavras os seus mais profundos segredos. De não ter medo de não ser único. De não ter medo de, inconscientemente para quem escreveu, ter sido "declarado" ao mundo.

Coisa estranha, a palavra escrita.

* as palavras também podem ser feias, é igual.

Anónimo disse...

Mas que insistência na distância! Somos sempre nós em tudo, e a distância está lá sempre também, para bem dos apetites de fusão. A não ser que digamos, como June Jordan,
there is no chance we will fall apart
there is no chance
there are no parts
Mas...PERIGO! Poeta! Distância à vista! ;)

Éclair

jamiroo disse...

E eu que pensava vir a ser um blogger que conheces, jpn... :/ que aconteceu?

blimunda disse...

olha, já misturei a minha na tua solidão... beijo