sábado, abril 23, 2005

O corpo, segundo o cadáver e o espelho

"O espelho, enquanto lugar sem onde, é uma utopia. No espelho, eu vejo-me ali, onde inexisto, num espaço irreal que se abre virtualmente diante mim, eu sou ali, ali onde não estou, uma espécie de imagem que me dá a mim mesmo a minha própria visibilidade, que me permite olhar-me lá, onde eu estou ausente: utopia do espelho. Mas o espelho existe realmente e tem. no lugar que ocupa, uma espécie de efeito bommerang: é a partir do espelho que descubro que não estou onde estou porque me vejo ali. É a partir deste olhar que de algum modo se coloca sobre mim, que eu volto a mim e que começo a reconstituoir-me diante dos meus olhos a partir do lugar onde me vejo." " É o cadáver e o espelho que nos ensinam, enfim, que ensinaram aos gregos, e que agora ensinam às crianças, que nós temos um corpo e que este corpo tem uma forma, que esta forma tem um contorno, que neste contorno há uma consistência, uma densidade, que o corpo ocupa um espaço." Michel Foucault, coisas ditas, coisas vistas

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