terça-feira, maio 10, 2005

A janela da minha vizinha

Há na minha janela uma imagem que me perturba. A três metros dela, as janelas da prisão das Mónicas, prisão de mulheres já desactivada. Eu olho em frente e vejo o rio, não é nada comigo. Mas a minha vizinha debaixo tem a janela virada para a janela gradeada. Penso no que terá sido a cumplicidade, a dor, as lágrimas, os sorrisos e até os medos que se trocaram. Lembro-me, como me poderia esquecer, estava a fazer um trabalho para a faculdade sobre o vigiar e o punir do foucault, dos relatos que um dia me fizeram das noites terríveis que se viviam ali, naquela exacta prisão. Seria naquela janela? Os pombos enfiaram-se dentro delas, acoitam-se entre o vidro e as grades. Ouço no restolhar vozes, as vozes que se foram. Um dia, quando a convivência entre vizinhos for maior, também eu perguntarei pelo que ficou disso tudo.

3 comentários:

Luís disse...

Já devias ter perguntado. Abc

Anónimo disse...

Devia ser inquietante.
Há uns anos atrás entrei numa prisão de homens. Foi terrível a sensação de grande calma cá fora (muros altos e um imenso silêncio) e de grande opressão lá dentro.

Anónimo disse...

Moramos perto :) Também passava por lá muitas vezes quando ia para o liceu Gil Vicente e sentia um enorme respeito quando ali passava, perguntando-me sobre o que ali se passaria... Também perto de mim, onde é agora o Chapitô, havia a Tutoria feminina. Lembro-me de descer as escadinhas de São Crispim e ver raparigas agarradas às grades, algumas eram bruscas e eu achava-as meia loucas. Ingenuidade... Beijos :)