terça-feira, maio 17, 2005

Mestre Finezas

Vou a um cabeleireiro moderno, elegante, no Bairro Alto. É de um casal de ingleses que se apaixonaram pelo nosso sol. Tem música tecno. Enquanto lavam a cabeça massajam-na. Gosto. Uma rapariga de vinte e poucos anos com um penteado muito à frente faz-me o escalpe. A primeira vez que lhe pedi alguma coisa, e era apenas algo simples, não me deixar irreconhecível, franziu o sobrolho e na sua autoridade de especialista disse, não, isso não fazemos. Como se dissesse, assim corte-o o meu amigo. Ganhou pela teimosia e pela expertize, senti-me muito mais jovem. É por isso que lá torno. O Mestre Finezas sai-me muito mais barato mas ela, ela tira-me uns anos ao crâneo. Agora já sou eu que ao sentar-me peço, torne-me outro, estou farto deste. Ela sorri, estudou fora, tem ido a campeonatos, cursos, mas milagres não se aprendem na escola. Sorri e já não é pouco, consola-me, nos próximos quarenta e cinco minutos sonho que vou ser outro. O tempo passa, o meu cabelo cai no chão, é varrido, ainda estou sentado o meu escalpe é levado para o caixote do lixo, olho em frente e detesto-me. Eu sei, a minha vida seria muito mais fácil se eu gostasse de mim mas a verdade é que, fisicamente, a minha única consolação são aqueles quarenta e cinco minutos em que imagino que aquela gaiata saltitona vai transformar-me por fora. Por dentro trato eu.

2 comentários:

Rita disse...

Gosto de ar frio, sobretudo se passeio à noite a pé.

Mas o teu ar, porra, às vezes é gelado.

Falta-me... o ar.

Carla de Elsinore disse...

uma fineza este post, meu amigo