quinta-feira, junho 23, 2005
A dor e a saudade
A experiência da dor é surpreendente porque nos diz que tudo em nós foi feito para não sentir. No diálogo que temos com o nosso corpo a dor é um queixume de uma parte para o todo. O todo suspende-se e passa a ser apenas o bocado dorido. Não deveria ser ao contrário? Não deveria doer-nos quando não sentissemos uma determinada parte do corpo? Quando essa estivesse ausente? Que raio de diálogo é este que mantemos com o nosso próprio corpo que é feito à custa do seu silenciamento? E se assim é porque não vivemos com os corpos dos outros, com os lugares, da mesma forma com que convivemos com os pedaços desavindos do nosso corpo? Quando estivessem connosco, presentes, doiam-nos. Quando partissem, apaziguavam-nos.
Há uma inteligência das coisas ou não há?
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2 comentários:
então, que dor é esta que em mim dói?
pois só que a dor da ausência do corpo do outro, tem de ser diferente e tem de existir. para não sermos solitários e procurarmos esse corpo até ao fim. se a convivência com o corpo do outro fosse como a relação com o nosso corpo, não seríamos mais que seres condicionados, doridos na presença, calmos na ausência.
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