segunda-feira, junho 06, 2005
Words
Já não é a primeira vez que me convoca para me dizer que eu sou um merdas. São tantas como as vezes que me desloquei para ouvi-la. Chego, sento-me, ela diz, são dez minutos.
Eu pergunto-lhe, são dez minutos a contar contigo ou connosco? Ela responde, são dez minutos a contar comigo.
Então eu sento-me, olho-a, durante dez minutos tento perceber porque é que ela tem esta estranha insistência na ideia de me convocar para dizer que eu não presto, que sou um merdolas, um picha-mole. Dobra-se a três quartos, as palavras saiem-lhe a custo, prepara a tirada final,
és apenas palavras, nada mais do que palavras.
Faz um gesto para se levantar. Ingenuamente pergunto-lhe se lhe posso dizer uma coisa, não,
ias apenas dizer mais palavras, nada mais do que mais palavras.
Então calei-me. Também, não se perdeu muito. Eu só ía, por palavras minhas, repetir essa ideia de que era um merdas, um gajo entre palavras. Era por isso natural que ela se levantasse e saísse deste cenário de papel almaço e tinta permanente. Aliás, eu só ía dizer-lhe para ela não se chatear muito com ela própria. O problema não era ela. Era eu.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
ainda??
Enviar um comentário