quarta-feira, agosto 24, 2005

Cuidados do amor

Há uns anos atrás, há muitos anos atrás devo confessar, surpreendido pelo rasgo e pela perturbação que um amor causava em mim quis guardá-lo para sempre. Como sempre acontecia aproximei-me de um amigo mais velho em cuja idade repousava uma sabedoria que eu reconhecia sempre. Ou quase sempre, mas isso é outra história. Perguntei-lhe, como cuidar do amor, eu queria saber exactamente isso, como cuidar do amor, como o tornar forte e são como um leão, um touro, ágil como um cavalo branco. Um cavalo branco selvagem. Do amor não se cuida, confia-se que ele cuide de nós, respondeu, não, ajuda-me, nem que tenhas de fazer batota com os teus segredos do Universo, eu agora não quero ser sábio, nem justo nem perfeito, quero apenas que este amor nunca acabe, nunca definhe, nunca morra, nunca se evapore. Confia nele. Confia nele a cuidar de ti para sempre e sempre o terás. Quando tiveres de ser tu a cuidar dele, fecha os olhos e diz-lhe adeus. Ele já não mora em ti. Não pode ser. Não pode ser, respondi exaltado. Como não posso cuidar dele? Posso levar-lhe flores, melhor, disfarçar-me de flor e ser eu a pétala que cai sobre o seu sexo, e eu sou vezes de mais a pétala exuberante que lhe descai do seio até ao seu sexo transtornado. Como não posso cuidar dele ?! Posso levá-la ao mar, posso levá-la a ver o mar e saber, e sabendo que sempre que isso acontece ela rebenta em mim como maré viva?! Como podes dizer isso?, virei-lhe costas, nesse momento estava decidido, esgotara a sua sabedoria com as minhas perguntas frequentes, tudo isso é ainda ele a cuidar de ti, respondeu, nem me virei para trás, era um pacto que tinhamos, quando eu fosse capaz de aceitar a palavra que nele procurava seguia em frente, sempre em frente.

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