sexta-feira, agosto 26, 2005

Eu sei que o meu amor vai morrer

Não fiquei particularmente entusiasmado ou exaltado quando soube que o nosso afecto era provisório. Ela disse-me com palavras dela e eu repeti-o com as minhas palavras. É sempre assim, este câmbio de palavras, com o que verdadeiramente importa. E enquanto descia a avenida, pudessem todas as ruas, todos os lugares serem assim livres, pensei na razão do meu incómodo: amo para me libertar da morte, da ideia de que vou morrer. É essa a minha verdade, a nossa verdade. É por isso também que aceitamos que uma forma muito especial de mentira se incruste no jogo do amor. Custa a crer que aquilo que inventámos para ludribriarmos o drama do nosso desaparecimento seja ainda mais precário do que a vida que gostaríamos de fazer durar para sempre.

1 comentário:

blimunda disse...

agora eu
agora eu

eu vinha e dizia
eu sei que o meu amor vai morrer
como beijo que morre ao morrer do dia
como água que corre para o mar
como monte subido ou
suspiro de alegria
como tudo o que começa sendo
começa já deixando de ser


outra coisa outra
é
em si mesma outra

um beijo tatuado no dia
que devargarzinho desce do monte
e se espraia em neblina
fina
suave
memória
refazendo no léxico do corpo
o desaguar da água
no sangue


depois
vens e dizes

: eu sei. o meu amor.



(beijinho, jota)