quarta-feira, agosto 17, 2005

Roger de Taizé

Há quinze anos estive em Taizé. Ia com um grupo de jovens católicos de um grupo de teatro da Paróquia de Santa Maria dos Olivais a quem dava apoio. Eu era agnóstico, eles queriam mostrar-me o outro lado do cristianismo. O lugar onde para eles a Igreja era mais forte. Fomos em duas Dianes, uma vermelha e uma branca. Fizémos o caminho mais longo, a gosto. Subimos Sanábria, fomos beber Cidra a Pedras Negras nas Astúrias, passámos em Bilbao no dia das festas da cidade, a cidade tremia com os poderosos fogos de artíficio, em S. Sebastian era madrugada, fomos às praias dos ricos, Biarritz. E depois os Pirinéus. Atravessámos a fronteira e fomos descer a Tarbes, creio. Depois seguimos por toda a costa, até que começámos a subir para Avignon. Lyon. E finalmente, Taizé. Eu nunca tinha viajado tanto, com tanta gente. Partilhávamos comidas, odores, maus-feitios, tudo. Acampávamos. Em parques convencionais ou num descampado como naquela noite em Lorca, lugarejo que nunca mais esquecerei. Quando cheguei a Taizé senti um aperto no peito. Aquilo parecia-me quase fundamentalismo. O irmão Roger estava num altar, senti. O melhor de Taizé para mim são aqueles que procuram esta comunidade. Por isso me demorei tanto no relato da nossa viagem. O melhor de Taizé pareceu-me o tempo e o movimento da sua procura. Lá dentro, por debaixo de um espirito de Taizé encontrei uma grande rigidez. Tinha levado um gravador e uma máquina fotográfica, fui fazer uma pesquisa. "Uma reportagem". Os meus amigos ficaram irritados comigo. Andei uma tarde a descobrir o outro lado de Taizé, aquele que não gostava dos "rogerianos". Que se sentia incomodado com a presença desta comunidade. É bem provável que fossem sentimentos locais. Nunca percebi e faltou-me o tempo para compreender mais. Apenas me lembro de que aquele artífice que batia na chapa e que me desvendou esta outra Taizé era um artista afável, simpático, tolerante. Com uma pequena excepção: odiava os irmãos rogerianos. No momento em que leio na televisão que o Irmão Roger foi degolado por uma "irmã", é isto que me ocorre. Neste fundamentalismo doentio que permite alguém degolar outro e ajoelhar-se a rezar ao mesmo Deus que assistiu a tudo.

2 comentários:

maresia disse...

não será uma redundância fundamentalismo doentio? existe um fundamentalismo que não o seja? talvez, não conheço.

JPN disse...

claro que é. mas nem todas as redundâncias são inoportunas. especialmente quando se fala de fundamentalismos.