sexta-feira, setembro 23, 2005
Dicionário do Silêncio: Respirar
O grande azul, a grande calma. Inspirem profundamente deixando que o ar entre e percorra todo o corpo, todos os músculos, todos os pensamentos, dizia-nos o João Mota, conduzindo-nos por uma viagem de incorporação, interiorização que partia sempre do mesmo cais: respirar.
Foi naquela sala do fundo do Casarão Cor de Rosa que aprendi que respirar existe. E que existindo tem um sentido político inegável. É o primeiro e o último acto político, aliás.
Nem sempre é brando o respirar. Arfar. Violento, a violência, o sopro intranquilo. Lembro-me de ti, na ressaca, inventando desculpas. E eu a respirar fundo e a dizer-te que não. Que ainda não.
Muitas vezes foi um sopro de ar, uma teima em continuar a respirar que marcou a linha divisória entre a loucura e o desespero. Fez-me, fui feito dessa ansiedade reiterada vezes sem conta. O ar-nosso-de-cada-dia é, eu sei, foi para mim muitas vezes, o maior acto de resistência.
Respirar é a primeira palavra silêncio deste nosso mundo
Fonte: Rui
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