quinta-feira, setembro 22, 2005

Razão e entusiasmo

uma palavra não é uma palavra. é uma matéria resistente. digo que o mundo irá ser outro. começo todos os textos que não sei se já começaram por esta declaração. sabe-me bem. de onde quer que me encontre, para onde quer que me desloque, estou só. sou na solidão de um pensamento. Há pouco estranharam a minha falta de entusiasmo. Eu respondi como pude, calei-me. Perdi de facto o entusiasmo. Tenho uma razão profunda para isso. Deixei de conviver com deuses há muito tempo e na nossa humanidade perdi o hábito de encontrar algo que me dê tesão. Dar-me-ía tesão um homem e uma mulher que sei, não existe; que não me fizessem bocejar. Que não fossem sacerdócio das suas pequenas obras. Estatuetária espelhada no horrendo. Eu não sei o que é morrer. Nem morrer de morte nem morrer de não conseguir permanecer neste mistério dos vivos. A fome. A doença. A guerra. Imagino que o homem e a mulher que sairem do negrume para suster o dique que extravaza as suas águas, serão dignos da minha melhor admiração e entusiasmo. Imagino que sim.

4 comentários:

Rita disse...

Poderemos considerar esse teu sentir apenas como um estado de espírito?

Anónimo disse...

A palavra é uma palavra, que se torna volátil pelas inúmeras interpretações e reinterpretações.
Só é matéria resistente quando se faz ideia, se transforma em projecto e nasce a obra.
E a obra pode ser tão somente quando fazemos com a palavra trabalho sobre nós próprios e isso nos transfoma de alguma maneira.
Não perca o entusiamo, porque as suas palavras, pelo menos, ainda são lidas por alguns. É obra.

cbs disse...

Jpn

Não sei qual é o dique que susténs...

Mas, acredita que és digno da minha melhor admiração.

Abraço

Luís disse...

E da minha (eu sei o que é morrer :))