terça-feira, novembro 29, 2005
culpa dele
dizia-lhe hoje, todos os dias desde há uns tempos, o quanto os seus fios de cabelo contavam histórias, à vez, e ele as sabia enumerar, com entoação compenetrada e séria. a boneca. uma boneca com olhos vidrados daquelas que nunca dormiram em meu quarto por se perderem em insónias que nos sondam os sonhos. tem a ver com pudor, que o sono é coisa íntima demais.
mas ele sim. tendo sido rapaz, agora homem, dormia ainda com uma boneca na prateleira altaneira da estante dos livros, desde sempre, um brinquedo antigo de família.
a mulher saiu de casa pela porta, ele nem se lembra que mês exibia o calendário da secretária, era apenas ameno e a mulher não tinha essa cor sedosa de cabelo, nem essa fidelidade de porcelana.
errou completamente, tiro ao lado.
o seu problema é que o seu amor sempre tinha sido playtónico.
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