segunda-feira, dezembro 12, 2005

Corpo a Corpo

Tenho frio. Um ar gelado vem-me de dentro, corta-me. Sinto a dor do frio a cortar-me. Desisti de falar com a razão quando a vejo. Sinto-a. Há muitos anos, sempre. Já fui um e o dos sentidos outro. Tinha que ser assim, creio. Crescemos como dois irmãos desavindos. E não falo só do sexo. Digo o corpo. Houve sempre duas matérias em mim, distintas, corpóreas. Igualmente corpóreas. O corpo das ideias, do que é ar e a carne do mundo, a matéria tangível. Onde o meu corpo áereo, o meu corpo de fuga ansiava o meu corpo físico tremia. O estremecimento veio depois, como um encontro, uma mestiçagem, uma fusão. Uma combustão. É no corpo de dentro, no corpo não tangível que me vem um frio medonho. Vem do sul, do lado da solidão, que é o lugar onde faz mais frio.

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