sexta-feira, janeiro 13, 2006
As pessoas das fotografias colonizam
o escuro das gavetas
Poses admiráveis e mãos grandes demais
Como em quadros do Schiele
e também
nuas
ossudas
intermináveis caminhos
das pernas aos pés
os pés sozinhos
vistos de viés
dessas mulheres
Existem?
As fotografias das pessoas vivem
em molduras naperons deformados
em cima das televisões
ao lado de telefones de discar e jarras de flores artificiais
aparadores com nomes monárquicos
quem contempla o mundo de cima de um electrodoméstico
já não é verdade
As pessoas
acontecem
não repousando logo
como a poeira nos sapatos pretos
São levadas
por outras pessoas junto ao peito ou num bolso interior
(Não sei bem o que estou a dizer,
que acredito mais no que não vejo)
nos ecos
esses que surpreendem os desprevenidos
em sorrisos enleados e decantados no meio da semana de trabalho
por exemplo em situações de trânsito
burocráticas
como programar
um relógio para acordar
(era a hora do teu comprimido ou de alimentares o gato)
A força de torcer os cantos dos lábios em vírgula
não é
predominantemente mecânica
Testemunhos falsos
as fotografias
porque não ensinam
os desprevenidos
a morrer
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2 comentários:
Queixas-te de que já não te escrevo poemas, como o fazia noutros tempos. Sim, tens toda a razão: já não consigo criar nada porque a poesia que havia em ti morreu, vítima de doença prolongada. Desde que houve diagnóstico da doença procurei uma cura, pedi-te para lutares: não desistas! Prometeste que o farias e por vezes pareceu que assim era mas rapidamente te esquecias e a doença avançava, e tu sem lutar, enquanto a dor corroía a poesia, comia-a até ao mais profundo do ser; Um dia, nos meus braços, expirou a última sobra de vida que lhe restava e fiquei a olhá-la toda a noite: purulenta, negra, oca, sem paixão. MORTA! _Fiquei, assim só, a chorá-la enquanto tu dormias ao meu lado como se nada se tivesse passado.
Desde esse dia, em que a poesia morreu, vesti de preto a alma, enviuvei e quis partir porque também eu morri sem poesia. Quis partir mas então prometeste mais uma vez, que seria desta.
- Morreu, já te deste conta? Foi-se!
- Prometo ressuscitá-la, é definitivo. Vou lutar por ela, reviverá! -disseste.
Confesso que já não acreditei, mas acedi. Até hoje nunca te disse porque fiquei e nunca o saberás, mas não foi pela poesia que em vão prometeste ressuscitar e aos poucos, de novo, esqueceste. Na verdade não percebo como apenas o vulgar correr dos dias te basta para viver, sem o sabor da poesia, sem sentir a paixão das palavras, sem a capacidade de viver os sonhos e sonhar a loucura, mesmo que em palavras apenas.
Sim, sei que fiquei e disso não te culpo porque a decisão foi minha, fiquei porque haveria sempre de morrer um dia; Fiquei porque tive de ficar mas não me peças, por favor, que te escreva mais poemas; porque a paixão já se esvaiu, porque um dia assassinaste a poesia.
Já sei que o texto não tem muito a ver com o teu mas a inspiração esteve fraca apenas me saíu esta prosa que nem é por aí além. Apesar de tudo acho este jogo interessante. Já há algum tempo que não consigo escrever nada de jeito e assim vou-me forçando, nem que seja à poesia de Metro(politano), curiosamente um dos locais onde me surgiram alguns dos melhores textos. Obrigado por um pouco deste despertar.
Se quiseres espreitar o meu blog, iniciei hoje uma nova Travel Series, agora sobre Praga (foi da nostalgia). És bem vinda.
Cumprimentos
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