domingo, fevereiro 19, 2006

Carta de Alforria

Um dia menti-te. Uma mentira piedosa. Disse-te que era teu. Só quando percebi o fluxo e refluxo das nossas palavras concordantes é que percebi que tinha exorbitado o sentido. Eu não sou teu, nem de ninguém. A piedade da mentira era para mim. Fiz de conta que era verdade. Que eu era meu. Depois foi só fazer um novo registo de propriedade. Mas a verdade é que não sou senão sócio minoritário de mim proprio. Nem mesmo quando estou completamente ensiesmado em mim mesmo. Sou sempre um outro que em mim habita, persistentemente.

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