quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Não sei de onde vem

Deixo claro que, quanto mais não seja pela incoerência estatística, não acredito no mito das almas-gémeas. Pois se, como enuncia o mito de Platão, fóssemos gomos da mesma laranja-mãe, com o crescimento exponencial da população mundial teríamos de ter sido e continuar a ser repartidos indefinidamente desde o início dos tempos. Assim teríamos mais que uma alma-gémea: a teoria perde a magia e o sentido. No entanto, há ocasiões, nas situações mais inusitadas, num dia quente, num jantar de família, durante um trabalho da escola, em que já senti, inopinadamente, a textura de lágrimas a precipitarem-se em fio pela face. Levo as mãos aos olhos. E não estou a chorar. Procuro um espelho. Não tenho os olhos vermelhos ou aguados. Nem sequer estou triste. Mas quase consigo garantir que em fechando os olhos, ao recolher com a ponta da língua um vestígio líquido dessa tristeza virtual, vem a saber a sal.

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