terça-feira, abril 25, 2006
As conquistas de Abril
Durante muito tempo as conquistas de Abril foram, em grande parte, um slogan escavacado pela sua reiteração. Principalmente na boca de uma esquerda e extrema esquerda com alguma propensão para a cristalização e esvaziamento retórico. O slogan parecia ter um significado flutuante. Umas vezes ouviamo-lo e pensávamos que se falava do controlo dos orgãos de poder que algumas forças políticas (principalmente as afectas ao PCP, o grande castigado no rescaldo da intentona) tinha começado a perder a partir de Novembro de 75. José Mário Branco, em Eu vim de longe, fala-nos dessa sensação de desânimo e desilusão. Mas era mais quando a direita as denegria, e nos tentava convencer que as conquistas de Abril eram um obstáculo a que este país se modernizasse, que o slogan adquiria um significado mais preciso. Era desse lado que vinha esta ideia de que a nossa Constituição, o nosso Código de Trabalho, consagravam direitos e regalias que eram um obstáculo ao crescimento financeiro e económico. No vaivém do slogan percebia-se uma sanha vingativa disfarçada de uma incontida veia reformista. É claro que o vocábulo constitucional nem sempre era redondo mas na maior parte das vezes não era isso que estava em causa. O que estava em causa eram as conquistas de Abril. A abolição de direitos hoje totalmente incompreensíveis, como os do homem sobre a mulher. Ou que se consagraram direitos e regalias laborais. E em que se legalizaram sindicatos. E muito do que hoje é a modernização das condições de trabalho, a fixação de direitos e regalias laborais, deve-se não só a essa enorme explosão social e política do 25 de Abril, também ao facto de começarmos a ter outros padrões de referência com a entrada na Comunidade Europeia. É assim, não cristalizando que prestamos o tributo aos nossos heróis, às nossas datas. E não as denegando. É terrível hoje o pendor economicista das leituras dos fenómenos sociais, políticos e culturais.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Vem aí o FATAL, 20 peças... entre elas uma com encenação de JPN, vou ver. Porque me quero fascinar diante de um palco como me fascino perante o que aqui leio. Com um bocadinho de sorte vemo-nos por lá :)
Não será preciso sorte! E também verás a Textura, que é uma das actrizes. Até lá, então.
Enviar um comentário