terça-feira, abril 18, 2006

Flagrante delito

Ontem passámos o dia juntos. O circuito do costume. Cinema e o mais que couber. À noite fui levá-lo a casa. Dei-lhe banho. A mãe, que não tinha estado de folga, estava em estado de síndrome de pós fim de semana. Eu e ele na casa de banho brincávamos. Fiz-lhe a minha patifaria preferida. Coloquei-lhe as meias nas orelhas. E tirei o telemóvel para lhe fazer uma foto. Ele não costuma mas desta vez exagerou. pôs-se de gatas, fingindo ser um cãozinho. Nesse momento entra a mãe, esbaforida, a querer virar o mundo do avesso. Não esquecerei tão cedo o olhar que ele me deu. Cumplicidade de macho. O meu menino já é um homem. A mãe xinga-me até não mais poder. Depois, quando sai, eu digo-lhe, não tem importância, Pedro, não faz mal, o pai não se importa, a mãe está cansada porque teve de trabalhar muito para ganhar dinheirinho. Ele baixa a cabeça e diz, eu fiquei triste. Não diz mas eu adivinho-lhe, ele ficou a pensar que a tarefa de me reconciliar com a mãe está cada vez mais uma missão impossível, digna de um super-herói.

5 comentários:

Anónimo disse...

Desculpa lá este desabafo, JPN, mas não posso deixar de o fazer...

Lendo este emocionante relato, para além de ficar com a óbvia pena da inocente criança, o blogoespectador sentir-se-à provavelmente solidário com o pobre pai e não menos indignado com a atitude totalmente repreensível da histérica, descontrolada e mal-humorada mãe. Efectivamnete, é isto que tende a suceder quando só se dá um lado de uma realidade. Se se acrescer a esta emocionante estorieta que toda esta cena se passou na véspera do primeiro dia de escola da criança após duas semanas de descontraídas férias, à hora em que já devia estar de pijama e jantada, e que esse atraso se deveu ao atraso do pai, talvez se faça luz relativamente à atitude da mãe. Mãe que, quiçá como muitas outras, para além de todas as coisas boas que todas as mães e pais devem dar, fica sempre com a tarefa de manter a ordem e a disciplina minímas necessárias a um crescimento saudável, ficando então com o carimbo de "má da fita" na testa. Se for preciso, que assim seja! Resta-lhe esperar que esse carimbo seja sempre por bem e que assim valha a pena. E que o seu filho tenha sempre o amor dos seus pais e o entenda como uma árvore e não apenas como uma folha ou um tronco. Mas, não menos importante, que dessa árvore nasçam bons frutos.

Beijos, pai!

Anónimo disse...

é verdade que é muito ingrato papel da mãe quando é esta a encarregada de manter a ordem e a disciplina e quando ao pai toca a parte da brincadeira... uma a má da fita, o outro o bacano...

pela minha experiência enquanto psicóloga, as guardas conjuntas são a melhor experiência para as crianças, pois assim ambos pais dividem os dois papéis e a criança aprende dos dois modelos importantes para a vida, e acrescenta-se, pai e mãe(principalmente esta ultima) ganham o tempo em que a criança está com o outro pai para a SUA própria vida, tão importante e tantas vezes relegada para segundo plano em nome dos filhos.

Mas isto de opinar é fácil, só quem está dentro é que sabe...

E quanto à criança, eles ficam tristes mas safam-se sempre, nós também o fizemos...

Anónimo disse...

O pai passa com a criança 2 dias, de 2 em 2 semanas, e chega ao final extenuado, enervado, prostrado.
A mãe está todos os dias com a criança, e por essa razão, e outras tantas, encontra-se em "estado de síndrome", "esbaforida", "a querer virar o mundo do avesso" e xinga "até não mais poder".
Esta é a situação clássica, e JPN descreve-a na perfeição.
O olhar do macho, que gera "cumplicidade de macho".
O seu menino ainda não é um homem, nem percebe ou intui essas coisas de "machos".
E concerteza que será um ser mais evoluído, a olhar mais além.

JPN disse...

um beijo, I. Isto não é propriamente um blognovela da TVI mas já que vieste aqui aproveito para esta sim, emocionante declaração: tenho muito orgulho em que sejas a mãe do nosso filho. Beijos

syl disse...

Bolas, é tão difícil ser pai, mãe e filho/a. Ser mãe é ter uma culpa imensa. Ser pai é sentir-se perdido entre o que se faz e aquilo que se devia ter feito. Ser filho/a é ficar a vê-los como baratas tontas, e pensar como é que eu os posso ajudar?
Bolas isto é difícil! será que melhora? Temo que não, valha-nos os interválos, vamos lá intervalar!