quarta-feira, abril 26, 2006

Memória

Queria lembrar-se dela.
De como falava de mansinho de coisas prosaicas, ao ouvido, muito baixo como quem conta pedras de um colar.
"Acabou a comida do cão" e ia-se embora a rir.
As fotografias. Não tinha muitas. Aquela de quando foram à praia e fizeram um piquenique num dia de muito vento.
Aparecia boquiaberta a olhar um bando de gaivotas. Desgrenhada e feliz.
Queria muito lembrar-se dela e da razão porque não aguentara mais a cama, as cadeiras, o ar, o eco do ruído da televisão.
Lembrava-a sempre de costas.
Irónico, que fora ele que não olhara para trás.

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